quinta-feira, 3 de abril de 2014

O sincero desmentido

Tenho evitado comentar a política desta corja que está no poleiro, tal o nojo que me causa o roubo descarado dos salários e das pensões e o asco que gente tão desqualificada me suscita. Não resisto a comentar o desmentido que o alegado primeiro-ministro fez acerca da transformação em definitivos dos cortes provisórios nos salários e nas pensões do funcionalismo.

Uma das características da personagem é a utilização frequente da mentira, recorrendo amiúde a um linguajar hermético, um misto de economês em inglês técnico e de politiquês em português moderno, e a esquiva a dar respostas claras às parcas perguntas que pouquíssimos jornalistas têm a ousadia de lhe fazer, tal a negrura dos tempos quanto ao exercício da liberdade de informação.

Desta vez, procurando sossegar os gentios desmentindo o anúncio de que os cortes nos salários e nas pensões iriam ser transformados de provisórios em definitivos, que um secretário de Estado fizera a um grupo de jornaleiros de recados solicitando-lhes o anonimato da fonte, a que estes prontamente acederam, o alegado afirmou que “não estavam previstos novos aprofundamentos”.

Em causa estava a transitoriedade do roubo, assim justificado para que o indulgente Tribunal Constitucional fosse deixando passar, ano a ano, a flagrante violação do direito e da Constituição, e não o aumento do roubo, já escandaloso. O assunto, de tão melindroso, deve ter sido discutido aprofundadamente entre a corja, e a reacção veio aprimorada em limpidez e transparência.

O rapaz não tem ginástica mental para tanto, e imagina-se a trabalheira dos conselheiros de comunicação a industriá-lo na nova técnica do golpe de rins exigida para a esquiva a uma situação complicada engendrada pela inépcia comunicacional de um dos zelosos servidores dos credores, receoso das tibiezas e dos temores eleitorais do alegado e do verdadeiro artista.

Através do mais sincero desmentido, isento do habitual cinismo, soube-se que o roubo não irá ser aprofundado, a cova já estará funda que chegue. Irá apenas ser consolidado. Para tanto, bastará cimentá-lo transformando em definitivo o que fora dito e justificado ser provisório. Sosseguem, portanto, os pobres de espírito: doravante nada mais lhes será roubado além do que já lhes é roubado.