tag:blogger.com,1999:blog-35523293.post334009605417083500..comments2023-05-30T13:34:11.993+01:00Comments on aparências do real: O marxismo e a revolução socialJOSÉ MANUEL CORREIAhttp://www.blogger.com/profile/02280120851209596215noreply@blogger.comBlogger4125tag:blogger.com,1999:blog-35523293.post-21468551673708481992007-09-15T21:00:00.000+01:002007-09-15T21:00:00.000+01:00Nelson Anjos.Esta é uma resposta aos seus “acho qu...Nelson Anjos.<BR/><BR/>Esta é uma resposta aos seus “acho que”. É longa, escrita ao correr do teclado, antes e depois do jantar, com futebol de permeio, e com o único intuito de tentar esclarecer de imediato as suas dúvidas e discordâncias. Não me foi enfadonho escrevê-la; espero que também não o seja para si lê-la. Oxalá possa tirar algum proveito, assim como os eventuais outros leitores com dúvidas semelhantes.<BR/><BR/>Agradeço-lhe a atenção que vem prestando aos textos afixados, assim como o interesse que tem manifestado através dos seus comentários.<BR/><BR/>Não hesite em colocar qualquer dúvida ou discordância.<BR/><BR/><BR/>1-Muitos conceitos do Marx são aceitáveis como reconstituição de elementos significativos da realidade social. A constatação de que existem relações sociais estabelecidas naquilo que é básico para a existência — a produção das condições materiais dessa existência — e designar essa parte da realidade por estrutura, e que existem outras relações sociais estabelecidas ao nível das representações que se fazem dessa parte da realidade, que são materializadas em instituições cuja função é regular e reproduzir aquelas relações, e designar esta parte da realidade social por superstrutura, parece-me uma feliz conceptualização do Marx. Não vejo razão, por enquanto, para abandonar esses conceitos. A elaboração conceptual foi um dos grandes avanços do pensamento social; e o facto do Marx o ter feito no meado do século XIX é seu mérito.<BR/><BR/>A obra do Marx é constituída por um projecto político, por uma narrativa da realidade social do seu tempo e por uma crítica da economia política. O essencial do pensamento marxista é a explicação da realidade social ao nível da economia política e um esboço de teoria sobre a revolução social. Para criticar essas explicações deve-se verificar a validade da argumentação e, depois, a verdade das conclusões. Mesmo usando os conceitos marxistas, constata-se que existe inconsistência argumentativa, o que lhe retira validade, e falsidade das conclusões, porque uma ou mais das premissas aceites como plausíveis são falsas. Não se pode apenas afirmar que esta ou aquela concepção marxismo é um erro; é necessário demonstrá-lo. Para isso, é necessário adoptar o próprio corpo conceptual do Marx. Depois de demonstrada a falsidade das explicações, então, será necessário produzir outras. Nesta fase, ter-se-á de elaborar novos conceitos se os do próprio Marx se mostraram inadequados.<BR/><BR/>Estou convicto de que Marx gostaria de ter encontrado no seu tempo críticos à altura. Como poderoso polemista, seria um desafio à sua grande capacidade de observação e de argumentação. Infelizmente, as coisas não ocorreram assim. Em vez de críticos, o marxismo encontrou adeptos, pessoas para quem as explicações avançadas pelo Marx confirmavam o que desejavam ver confirmado. Muitos desses adeptos eram jovens intelectuais para quem a compreensão do pensamento marxista constituía um desafio. A generalidade não chegou a compreender a fecundidade conceptual do Marx. Esse mesmo fenómeno constata-se ainda hoje. A generalidade dos marxistas modernos não compreende as explicações do Marx. Aceita-as e recita-as. E a forma como o faz é elucidativa da sua incompreensão.<BR/><BR/>Depois da crítica, por enquanto apenas esboçada, restará do pensamento do Marx a riqueza conceptual e o pioneirismo. Sobre a concepção da revolução social, que Marx apenas esboçou, nada restará. Duvido que o marxismo fique a constituir mais do que um marco pioneiro do pensamento social. Apesar do seu enorme talento, Marx não pôde escapar ao contexto científico do seu tempo, num campo extremamente ingrato, que faz recurso ao pensamento especulativo, e do qual ele se destacou pelas sínteses originais que intentou.<BR/><BR/>Não posso esconder que mantenho uma grande admiração pelo Marx, mesmo sendo um crítico severo das suas explicações da realidade social. Tomara que a generalidade dos adeptos lhe retribuísse a admiração intelectual que lhe rendo. Parece paradoxal? Não é!<BR/><BR/>2-Os modelos são objectos conceptuais com os quais se pretende reconstituir um objecto muito complexo chamado realidade, mesmo que restrito ou circunscrito a uma sua parte ou a uma qualquer ocorrência. Quando se pretende reconstituir a realidade social, um objecto instável e do qual os observadores são parte integrante, então, as dificuldades da modelação resultam muito acrescidas. Como objectos conceptuais, os modelos utilizam conceitos, eles próprios objectos do pensamento, elaborados como elementos reconstituídos de partes ou aspectos relevantes do objecto de estudo; e tentam explicar as inter-relações entre os conceitos de forma consistente, de modo que a totalidade dos elementos dispersos, que parecem relacionar-se de forma caótica, sob que se apresenta a realidade empírica, adquira um sentido coerente.<BR/><BR/>Todas as teorias, enquanto modelos explicativos para a causalidade ou para o desenrolar de um fenómeno, sofrem das limitações inerentes à modelação da realidade. Mas para nos aventurarmos na produção de conhecimento não podemos proceder de outra forma se não por tentativas de elaborar modelos cuja dinâmica e isomorfismo com a realidade que pretendem reconstituir sejam cada vez maiores. A ciência busca a verdade, é certo. Felizmente, apenas produz conhecimento. Este, por parcial e incerto, é apenas útil, e por essa característica é validado, muitas vezes por prazos muito curtos, porque sujeito à crítica e à refutação. É humano. Que poderemos fazer se não proceder como modernos aprendizes de feiticeiros armados da razão? Que se saiba, mais nenhum bicho assim procede. Mas trata-se de humanos com alguma dose de loucura, temos de reconhecê-lo, que têm a ousadia de se aventurarem num terreno durante tanto tempo reservado aos deuses. De outro modo, o homem não poderia ir compreendendo e, até certo ponto, transformando e controlando, de forma limitada, é certo, algumas das manifestações da natureza. Esta humanidade, apesar das barbaridades que vai cometendo, é também assim. Ainda bem. Neste sentido, tem razão no que afirma em relação às limitações da reconstituição da realidade.<BR/><BR/>Em relação à transformação social, nomeadamente em relação à sua componente política e ideológica. A violência é uma constante da História, de facto. Não há como iludir. A violência, com a sua força destruidora, elimina pessoas, desfaz coisas e objectos. E os homens que a praticam estão imbuídos de fortes interesses ou de representações que lhes proporcionam grande motivação, por vezes incutida pelo pensamento mágico (como são as representações religiosas). O direito ao auto-governo e à soberania sobre o próprio território, à auto-determinação, é um dos interesses susceptíveis de incutirem grande motivação para o voluntarismo. As revoluções políticas e as lutas pela libertação nacional do jugo colonial ou da ocupação estrangeira são desde sempre uma causa fortemente motivadora das comunidades humanas. Nas guerras em que essas lutas se podem transformar, como em todas as guerras, desaparece o verniz dos valores éticos e morais com que constantemente pretendemos dar consistência à convivência.<BR/><BR/>O voluntarismo, porém, não muda as formas com que organizamos o trabalho e repartimos o produto, as relações estabelecidas na produção. Cada geração, à medida que entra na produção, de forma descoordenada, encontra já dadas as condições em que se integra e as relações que as determinam. O voluntarismo político, por maior que seja, não tem capacidade para mudar as relações que de forma inconsciente se foram estabelecendo ao longo do tempo. A não ser pelo recurso à coerção violenta. Pode importar formas económicas que já provaram ser mais eficazes e eficientes, e aos poucos, através dos superiores resultados que cada um obtém, ir transformando essas relações; isso, ainda vá. Mas se pretende implantar formas cuja superioridade é apenas imaginada, desejada, e sem qualquer suporte comprovativo na realidade, o malogro é o desfecho mais natural de tamanha pretensão.<BR/><BR/>O colonialismo foi uma fase histórica; tarde ou cedo tinha de acabar. E assim foi. Se não fora a luta dos colonizados pela libertação nacional talvez não acabasse quando acabou. É escusado criticá-lo com base nos valores de hoje, quer da parte dos antigos colonizadores, quer da parte dos colonizados. Se os colonizadores não dispusessem de qualquer supremacia (produtiva, comercial, social ou militar) o colonialismo não teria existido em determinadas regiões, como não existiu noutras. A realidade foi assim; não há como esconder nem lamentar. Bastará compreender.<BR/><BR/>3-As experiências revolucionárias comunistas não descambaram no seu contrário. Nada se transforma no seu contrário. O que designamos por contrário de algo ou já existe na realidade, nascendo nela por efeitos de relações por vezes secundárias que se foram desenvolvendo, ou então não se manifestará como tal. A teoria da contradição entre coisas ou entre coisas e pessoas, ela, sim, é uma contradição pegada, uma completa cegada. É em grande parte por fazer recurso da dialéctica hegeliana, ainda que transformada e invertida, que o marxismo não ultrapassou a fase do erro lógico grosseiro.<BR/><BR/>Não é agora que o marxismo está errado. Sempre esteve. Os resultados da experimentação prática do projecto político marxista apenas confirmaram que a suposta supremacia do comunismo não passava disso. A prática acabou por comprovar a falácia da proclamação panfletária, do projecto político messiânico. Como os comunistas, enquanto os regimes duraram, quiseram apresentar a sua existência como confirmação da validade teórica do marxismo, a partir da sua falência poder-se-ia deduzir que a teoria também estivesse errada. Mas a existência ou a falência dos regimes políticos comunistas pouco tem a ver com as concepções teóricas do Marx; a sua referência é a profecia messiânica panfletária e os acrescentos que os apóstolos mais destacados foram produzindo para a conformar com a realidade. Deste modo, apenas a crítica teórica daquelas concepções conseguirá demonstrar a sua falsidade.<BR/><BR/>Quem tivesse maturidade e formação política na altura da revolução comunista na Rússia e conhecesse o que se foi passando teria tido possibilidade de se aperceber de que o comunismo não teria grande futuro. Lenine foi um dos primeiros a vê-lo. Sempre à espera da revolução proletária na Alemanha ou noutros países desenvolvidos, e a magana sempre a fazer negas. Que restava então ao partido bolchevique, depois da guerra civil tão devastadora que se seguiu ao putsch de Novembro? Entregar o ouro ao bandido e depor as armas? Continuar com a política de recurso que foi a NEP e permitir o desenvolvimento do capitalismo privado individual? Não aguentaria muito tempo no poder, e aos comunistas esperá-los-ia o mesmo que haviam feito aos adversários: o julgamento sumário e o fuzilamento, ou coisa pior. A opção pela colectivização forçada, recorrendo aos métodos mais bárbaros e à eliminação física do campesinato que a ela reagia e se lhe opunha — que não entendia a viragem dos comunistas e resistia às requisições, ao confisco das terras (algumas de que tinham sido servos durante gerações e que os bolcheviques lhes haviam concedido a propriedade plena tão pouco tempo antes, como recompensa pelo seu envolvimento e apoio na revolução) e à integração forçada em cooperativas — a instalação da indústria pesada, enfim, o capitalismo de Estado monopolista, que apenas o estalinismo permitiria instituir e consolidar, foi o curso possível daquela história.<BR/><BR/>E aquela história, que não teria sido possível sem o estalinismo, aconteceu pelo medo de uns, pelo entusiasmo que a propaganda conseguiu incutir na juventude (a quem os novos valores permitia escapar do domínio patriarcal e adquirir a liberdade do cosmopolitismo e da igualdade, apenas eventualmente sonhada) e pelo fervor nacionalista de estar construindo um país moderno em contraposição à sociedade atrasada e arcaica do velho Império, tudo com o controlo duma feroz ditadura que castigava barbaramente para exemplo, mais do que por qualquer outra razão. A realidade é muito menos idílica do que a pinta a propaganda, e é muito menos linear e menos simplória do que a sua reconstituição histórica pode fazer supor.<BR/><BR/>Foram estes os ingredientes, e não os de qualquer receita marxista ou leninista, que permitiram edificar o comunismo. A própria ideologia legitimadora, o marxismo-leninismo, que em boa verdade deveria ser designada por leninismo-estalinismo, foi construída e difundida posteriormente como catecismo, como forma de cimentar e dar coesão à nova sociedade em construção. O apoio internacionalista veiculado pelos partidos comunistas, que entretanto se tinham ido formando, constituiria outro importante meio propagandístico para a mitificação do comunismo. Pela primeira vez, os trabalhadores assalariados (ou os antigos camponeses que o comunismo transformava rapidamente em operários, em técnicos, em engenheiros, em professores, em médicos) tomavam conta do poder e passavam a ter o destino nas suas mãos. O sonho tornava-se realidade. Havia lá coisa mais bela?<BR/><BR/>O surgimento do fascismo e do nazismo — em parte como reacção ao bolchevismo, mas também como soluções de recurso das burguesias nacionais em países empobrecidos e com grande agitação social provocada por milhões de desmobilizados desempregados, face à fragilidade das democracias parlamentares e às suas dificuldades para controlarem a desordem social; a grande depressão de 1929 e a crise de subprodução que se lhe seguiu por alguns anos, agravando as condições de existência de muitos milhões de trabalhadores por todo o Mundo e baixando o nível de vida mesmo nos países desenvolvidos da época; as possibilidades de negócio que muitas empresas capitalistas industriais encontraram na Rússia, como fornecedoras de toda a sorte de equipamentos industriais e agrícolas, recebendo os pagamentos em ouro ou noutros metais preciosos, em trigo, em petróleo, em moedas fortes, etc.; o rearmamento da Alemanha nazi, de que a Rússia também beneficiou, através de acordos bilaterais secretos; a grande guerra patriótica que se lhe seguiu, e a ascensão da Rússia à condição de grande potência no concerto das nações vencedoras, como prémio pelo elevado preço pago em vidas e em destruição do seu território; a tomada do poder pelos partidos comunistas nos países ocupados pelo exército vermelho, reconstituindo e ampliando o tampão defensivo do velho Império czarista (a cortina de ferro, como o baptizou o Churchill); e a guerra-fria de manutenção do stato quo, permitindo a recuperação da destruição da segunda guerra mundial, possibilitaram dar a ilusão de que o desenvolvimento sem limite das forças produtivas sociais era possível sob o comunismo.<BR/><BR/>A política de coexistência pacífica e de concorrência entre as duas formas do capitalismo — o capitalismo de Estado monopolista sob regimes ditatoriais, designado correntemente por comunismo, e o capitalismo individual concorrencial sob regimes democráticos, esse, designado por capitalismo — acabaria por comprovar a incapacidade do comunismo para concorrer com o capitalismo. O comunismo, por assim dizer, nasceu como produto da guerra e morreu como produto da paz. Embora tenha chegado a ocupar uma parte substancial do globo, com um mercado interno de muitos milhões de consumidores, o comunismo nunca pôde alcançar o nível de desenvolvimento do capitalismo, embora por alguns períodos tenha crescido a ritmos mais elevados, que lhe permitiram recuperar parte do atraso; muito menos poderia ultrapassá-lo. A sua função, através duma férrea ditadura, foi trazer sociedades atrasadas para a plenitude da modernidade capitalista. As previsões do Kruchov perante um Nixon algo envergonhado, aquando da sua visita a Moscovo como vice-presidente do Eisenhower, acabariam por não passar de fanfarronices, coisa em que os comunistas eram pródigos, julgando-se detentores do conhecimento certo e considerando-se os anunciados novos senhores do Mundo. O comunismo não dispunha em quantidade suficiente dos dois ingredientes indispensáveis para promover o desenvolvimento das forças produtivas sociais: capitais vultuosos e liberdade de iniciativa. Além de que a planificação centralizada nunca poderia desempenhar o papel dessa instituição milenar, pré-capitalista até perder de vista, que é o mercado.<BR/><BR/>Ainda hoje, os comunistas diabolizam o mercado, sem terem enxergado que ele constituiu um dos maiores e mais duradouros progressos da humanidade. Não conseguiram compreender que o caos mercantil não é mais do que a forma social de adaptação à forma caótica como se organizam os muitos milhões de produtores e de consumidores, fruto do seu livre arbítrio como seres autónomos que se pretendem governar a si próprios, e que é ele que permite satisfazer da forma mais eficaz aquela dupla condição da existência dos seres humanos. Por isso, só podem diabolizar as crises de sobreprodução que periodicamente ocorrem. Não lhes dá para ver que apesar das crises o progresso é uma constante. Que apesar das iniquidades da exploração dos trabalhadores assalariados e da troca desigual entre países, o capitalismo é o modo de produção mais progressivo e próspero que a humanidade já conheceu, aquele que tem proporcionado o melhor nível de vida à maior quantidade de seres humanos como nenhum outro. Confundem deliberadamente as decisões políticas e as lutas de interesses entre Estados, reflexo das lutas de classes ao nível da superstrutura, com a relação de produção salarial existente na estrutura social, a mesma relação de produção que eles próprios tiveram de implantar porque não existia outra mais moderna. Aos olhos dos comunistas, contudo, que pode ser esta realidade imperfeita, que teima em não se conformar com os desejos de humanitários benfeitores com que eles se apresentam, se não obra do diabo? É discurso do mesmo tipo do dos fanáticos das religiões sagradas.<BR/><BR/>4-A distinção entre trabalho e força de trabalho foi talvez a grande e única originalidade do Marx em relação aos economistas clássicos. Em meu entender é uma distinção errada. A originalidade do Marx acabou constituindo um clamoroso erro. A força de trabalho não reúne as características das mercadorias: produtos produzidos para troca e serem fornecidos para o consumo de outros. Ainda ontem, gracejando com dois dos meus filhos lhes dizia, para ilustrar o erro do Marx, que depois de almoço estaria em condições de lhes fornecer umas seis horas de força de trabalho; bastaria dizerem-me como desejavam recebê-la. Risada geral. Como vê, o erro é clamoroso. A força de trabalho, a capacidade para produzir trabalho, não é produto que se possa fornecer a terceiros. Existe com o trabalhador, é a sua capacidade de existir como produtor. O que ele pode fazer com essa sua capacidade é produzir um produto, o trabalho. Este produto poderá vendê-lo e fornecê-lo ao comprador (desde que o comprador esteja interessado na utilidade concreta do trabalho que um trabalhador concreto for capaz de produzir). O trabalho pode ser fornecido para consumo na transformação de coisas ou de objectos do comprador (porque é essa a função do trabalho e a utilidade que o comprador espera obter dele quando o compra); a força de trabalho, a mera capacidade para produzir trabalho, a energia humana, essa não pode ser fornecida, faz parte do próprio ser que é o trabalhador e não se pode desprender dele, ao contrário do trabalho. Trabalho e força de trabalho não são a mesma coisa; aquele é um produto desta.<BR/><BR/>O Marx estava condicionado pela chamada lei geral da troca das mercadorias: a famosa troca equitativa. A partir daí, sem questionar a plausibilidade desta premissa, só lhe restava, para poder explicar a génese do lucro e ultrapassar a inconsistência da argumentação do Ricardo, encontrar uma mercadoria especial que tivesse a faculdade de fornecer mais do que continha, no caso, mais valor do que aquele que continha. Ora, nada fornece mais do que contém, seja do que for que contenha. É uma simples lei da física, tal como é também da física a distinção entre trabalho e energia. Por outro lado, baseado naquela suposta lei geral, a força de trabalho, como qualquer outra mercadoria, só poderia ser vendida pelo seu valor. Nada, porém, permitia comprovar que a força de trabalho fosse vendida pelo seu valor. Aliás, a diferenciação salarial comprovava que não seria vendida pelo seu valor, porque o valor de uma tal mercadoria, sendo produzida pelo corpo humano vivo, não poderia variar tanto. Mas, se a força de trabalho era vendida pelo seu valor, o lucro só poderia constituir um “mais valor”, um valor suplementar produzido pela força de trabalho. Daí, na concepção marxista, o lucro ou mais-valia ser originado na produção e não na circulação, na troca das mercadorias, e, concretamente, na troca de trabalho vivo por trabalho passado.<BR/><BR/>Se abstrairmos da condição de produtos naturais dos objectos e dos instrumentos de trabalho, as mercadorias reprodutíveis são apenas constituídas por trabalho. O trabalho constitui a mercadoria universal, independentemente da forma sob que se apresente (trabalho vivo ou trabalho passado). Basta comparar a quantidade de trabalho fornecida pelo trabalhador e a quantidade que ele recebe como pagamento para ver o que o lucro é essa diferença. Marx viu-o, e, aliás, foi assim que o explicou. Só que fornecer uma quantidade de trabalho e receber uma quantidade menor em troca entra no reino da trapaça, violando a sacrossanta troca equitativa. O Marx não foi capaz de romper com semelhante preconceito da ideologia burguesa, que representava a realidade com o que acontecia entre os burgueses. Persistiu atribuindo o lucro às propriedades mágicas dessa mercadoria especial que identificou com a força de trabalho. Para mais, o trabalho vivo, erradamente identificado como sendo a substância do valor, não entrava na produção da força de trabalho, o que retirava qualquer valor a esta. Enfim, uma trapalhada pegada, em que os efeitos do fenómeno, da exploração — o menor valor que o trabalhador recebia por troca com a sua força de trabalho — era tomado como sua causa, isto é, a força de trabalho tinha a faculdade mágica de fornecer mais valor do que o que tinha. A versão marxista da teoria do valor-trabalho e a sua explicação para a génese do lucro estão pois erradas.<BR/><BR/>O trabalho não é a substância do valor, mas a mercadoria vendida pelo trabalhador; e a força de trabalho, a energia humana ou capacidade para produzir trabalho, não é a mercadoria vendida, mas a substância do valor. É o inverso da concepção marxista. A partir daquela substância, comum à mercadoria geral trabalho, é possível atribuir valor ao trabalho, ao seu custo de produção. O trabalho não produz valor; o que produz valor é a força de trabalho, a energia humana. O trabalho tem valor, o valor do custo da sua produção; e transfere esse seu valor para as mercadorias na produção das quais é produzido e consumido. Homogeneizando os diversos tipos concretos de trabalho, reduzindo-os a um trabalho geral e abstracto que exija a mesma quantidade de energia para ser produzido, pode-se reduzir a unidade de medida da energia humana a uma unidade prática: o tempo de produção do trabalho. Deste modo, o valor do trabalho é facilmente medível e comparável. O tempo de produção do trabalho pode, em termos práticos e expeditos, ser tomado para unidade de medida do valor das mercadorias. É o que os capitalistas fazem, mesmo que utilizem a conversão do tempo de trabalho na unidade monetária da mercadoria equivalente geral dinheiro.<BR/><BR/>O problema do Marx foi não ter rompido com o princípio falacioso da troca equitativa, que representava a realidade como os burgueses a viam, e ter afirmado, em conformidade com ele, ser o valor de troca a forma de expressão do valor. Ora, o valor de troca ou preço, enquanto relação quantitativa entre mercadorias, ou entre estas e a mercadoria equivalente geral monetária, é determinado por muitos factores (a flutuação entre a oferta e a procura, a preferência dos consumidores por marcas e modelos, que a publicidade e o marketing tanto se esforçam por conquistar e por fidelizar, a pertinência — a necessidade e a oportunidade — duma mercadoria concreta para um consumidor concreto, as baixas e rebaixas dos preços para renovação dos stocks empatados, os saldos, as falências, a concorrência ou a capacidade de domínio do mercado, etc., etc., etc.), enquanto o valor do custo de produção é determinado por um único factor: o tempo de trabalho consumido desde a concepção até à venda da mercadoria (não apenas na produção do produto, mas desde a criação até à consumação do produto como mercadoria, o que acontece com o acto da troca, com a venda). O preço de uma mercadoria pode variar em função de alguns dos factores enumerados; o que não varia é o seu valor, o tempo de trabalho que foi consumido na sua produção, desde a criação até à venda. Com base no valor do custo de produção pode-se determinar o que ocorre na troca das mercadorias, independentemente das flutuações dos preços. Doutro modo, sendo os preços aparentemente tão aleatórios, não seria inteligível o que cada um cede em troca do que recebe dos outros. Não admira, portanto, o desinteresse dos ideólogos burgueses pela formulação duma teoria do valor das mercadorias.<BR/><BR/>Em termos gerais, a troca das mercadorias que não o trabalho tende a ser uma troca equitativa (embora possa não sê-lo, e frequentemente não o seja, no caso das trocas de mercadorias oriundas de mercados diferentes, no caso de ganhos de produtividade não reflectidos em preços mais baixos enquanto a concorrência não anula esses ganhos, ou no caso da produção de alguns tipos de mercadorias estar onerada diferentemente por rendas ou por juros que a mobilidade dos capitais não anule; neste caso, o uso expedito da taxa de lucro sobre o capital empregado, forma pela qual desde sempre foram formados os preços, procede à transferência de valor de uns para outros produtores, através do desvio dos preços em relação aos valores). A troca do trabalho por outras mercadorias, essa, é uma troca desigual. É nessa troca desigual entre capitalistas e trabalhadores que reside a génese do lucro. <BR/><BR/>A troca desigual entre capitalistas e trabalhadores assalariados é a essência do modo de produção salarial ou capitalista. Para explicá-la não é necessário recorrer à intervenção de quaisquer artes mágicas ou de mercadorias especiais. Ela é possível porque a venda do trabalho constitui uma necessidade vital para o seu produtor, o trabalhador assalariado, para o qual a troca desigual é a condição da subsistência e o preço da liberdade. A forma do trabalho assalariado, e a troca desigual em que se baseia, pode parecer um alto preço pago pelos trabalhadores em troca duma pequena parcela de liberdade, em muitos aspectos limitada e ilusória. Comparada com outras formas de cedência de parte do produto, e com a ausência de liberdade que as acompanhava, o preço pago por esta ilusória liberdade parece valer a pena. E a coisa não vai ficar por aqui, porque ainda agora a procissão vai no adro.<BR/><BR/>Está ainda por deslindar o mistério das contradições entre os livros primeiro e terceiro de O Capital, e o papel desempenhado por Engels no aproveitamento dos papéis do Marx. Se esse fosse alguma vez constituído como objecto de estudo, talvez se viesse a compreender o tão grande interregno entre a publicação do primeiro e dos restantes livros de O Capital. Engels foi mais do que o grande amigo; foi talvez quem tentou salvar o marxismo das contradições e inconsistências que o próprio autor poderá ter constatado. Sem êxito. Publicando o resto da obra contribuiu para a edificação de um mito com pés de barro. Mas é disto que se faz também a realidade.<BR/><BR/>Nos meus textos tento mostrar a minha teoria do valor das mercadorias e a minha explicação para a génese do lucro. E num dos últimos textos apresentei também a minha própria explicação para a revolução social (já esboçada igualmente noutros textos anteriores). Pouco me importa que seja entendido como uma crítica interna do marxismo. O pensamento errado do Marx foi o que de melhor se produziu. Porquê desperdiçar esse valioso contributo? Mas quem sou eu para ter a desfaçatez de proclamar os erros alheios e avançar novas propostas explicativas? Apenas um crítico do Marx. Alguns discordam? Então, que venham de lá os argumentos em contrário e a refutação. De preferência, sob a forma de argumentos sólidos, não de desejos ardentes nem de lamúrias pungentes.<BR/><BR/>JMC.<BR/><BR/>NOTA: Foram corrigidas algumas pequenas passagens mais confusas e desenvolvidas outras.JOSÉ MANUEL CORREIAhttps://www.blogger.com/profile/02280120851209596215noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-35523293.post-33285977921850861322007-09-12T21:04:00.000+01:002007-09-12T21:04:00.000+01:00Manuel João Neto.Li o seu comentário. Hesitei em r...Manuel João Neto.<BR/><BR/>Li o seu comentário. Hesitei em responder-lhe, porque decidira anteriormente pôr ponto final à discussão com terceiros em casa alheia. Quando, por fim, optei por responder-lhe, o Dias tinha fechado a loja para a Festa do Avante. Entretanto, passou a oportunidade.<BR/><BR/>Tinha pensado adaptar esse meu comentário e publicá-lo aqui. Acabei por desistir. Deixe-me dizer-lhe que não perdeu nada. Não lhe era lisonjeiro.<BR/><BR/>Essencialmente, por três ordens de razões. A primeira, devido ao vício, derivado de qualquer mania da superioridade dos comunistas, de pretenderem saber a totalidade do pensamento político do interlocutor, não lhe bastando os argumentos por ele invocados sobre um assunto concreto. Partindo dessa pretensa superioridade, julgam-se até no direito de caluniar o interlocutor acerca das suas pretensas posições políticas, que desconhecem. Ora, esse direito de afirmar o que se desconhece e de com base nisso caluniar o interlocutor nem aos fiéis é concedido. Mesmo esses têm de falar pela palavra do senhor. Muito menos é direito que assista aos devotos de S. Marx. Sobre este assunto, você deveria reflectir um pouco, e não apenas retirar o que disse.<BR/><BR/>A segunda, porque me pareceu, eventualmente erradamente, que você tem uma representação do marxismo muito distante do pensamento do Marx. Esgrimir argumentos com quem tem opiniões baseadas no preconceito, no que ouviu dizer, no que leu por interpostos intérpretes, pareceu-me ser trabalho infrutífero. Não é de agora que os marxistas são apenas marxistas, sem que tenham compreendido o pensamento do Marx. É pecha antiga. Mas os comunistas primam por desconhecer o que é fundamental no pensamento do Marx. Como os fiéis de qualquer igreja, desconhecem a bíblia; basta-lhes recitar o catecismo e as ladainhas da liturgia. Mesmo que conheçam um pouco que seja, não conseguem sair da recitação laudatória, o que é elucidativo da sua disposição para discutir. Interessa-lhes, sim, tentar convencer o interlocutor, na tentativa de conquistar mais um adepto; nunca pôr em causa a palavra do profeta.<BR/><BR/>A terceira, porque o que invocou para defender o legado dos comunistas quanto aos progressos civilizacionais, denota que você funciona mais em termos de propaganda do que em termos de espírito crítico, e está redondamente equivocado. Nesta altura do campeonato, a propaganda é totalmente desnecessária. O comunismo esboroou-se, porque faliu; e não faliu porque tenha sido algo de avançado cujos custos fossem insuportáveis pela contabilidade; faliu porque a produtividade era baixa e os custos do sacrifício da liberdade eram muito elevados. Chegou uma altura em que até o pessoal que se costuma marimbar para a liberdade se marimbou para o comunismo.<BR/><BR/>Pode ser uma tristeza infinda para quem acreditou num sonho tão lindo, mas é a crua realidade. E depois, quando se começa a olhar para a profecia com olhos de ver, descobre-se que está lá tudo: o erro idealista de uma ponta à outra, apesar do talento. É o contexto duma época, a que até os génios não conseguem escapar.<BR/><BR/>Se quiser debater aqui qualquer dos textos postados, ou outros temas ainda não abordados, mas dentro da temática do pensamento do Marx e da prática do comunismo, faça favor. Tem é de se esforçar por apresentar argumentos, não meras opiniões infundamentadas. É a única condição para que qualquer diálogo possa ser minimamente frutuoso. E pode crer que ninguém mais do que eu deseja ser contraditado. Porque laborar em eventuais erros não é agradável.<BR/>JMC.JOSÉ MANUEL CORREIAhttps://www.blogger.com/profile/02280120851209596215noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-35523293.post-46069488760430862822007-09-12T15:01:00.000+01:002007-09-12T15:01:00.000+01:00Esta coisa de sair à rua em dia de chuva sem seque...Esta coisa de sair à rua em dia de chuva sem sequer levar chapéu, é de facto inconsciência pura. Ou então crença de velho soldado; – segundo a qual, chuva de civis não molha militares. Vêm estas congeminações a propósito de dar comigo a apanhar com ela no pêlo, e não ter onde me abrigar.<BR/><BR/>Encontro-me em África – Angola – sem um único livrinho do velho Marx, ou sobre ele, que me possa valer. É verdade que ele passou por aqui – ou os seus fantasmas ? – nos já longínquos de 70 e 80. Mas não deixou rasto. E os estudantes desse tempo, que o “estudaram” no âmbito dos programas escolares então vigentes, ficaram a perceber e a gostar tanto dele como eu fiquei a perceber e a gostar dos Lusíadas quando os professores mos quiseram impingir quando eu tinha para aí os meus catorze ou quinze anos.<BR/><BR/>Em desespero de causa, procuro esgravatar algo na Internet; mas, do Capital, ou textos relevantes dele para consumo imediato, ou outros escritos de Marx, não encontro nada. Resta-me apenas anotar Marx na minha lista de autores a trazer da próxima vez que me desloque à província ultramarina de Portugal. Por agora vou tentar socorrer-me da memória e de algumas ideias gerais que por lá ainda restarem.<BR/><BR/>Fora esta desconfortável sensação de trabalhar sem rede – neste caso, sem o tal chapéu – o post de JMC parece-me mais um exercício de discernimento brilhante a merecer a leitura que contudo não me encontro em condições de fazer. E só com base nela poderia declarar, com fundamento, os meus acordos e desacordos Mesmo assim vou arriscar dois ou três “acho que”.<BR/><BR/>Primeiro “acho que”: acho que a crítica de JMC a Marx tem ainda muito de ... marxista. Tanto que, estou certo, seria antes de mais o próprio Marx, se ainda vivesse, a agradecer: “obrigado caro camarada JMC, pelos seus lúcidos comentários. Vou rever as minhas teses !”<BR/><BR/>(Não me leve a mal JMC. Embora de facto me pareça ver algo de verdade no que acabo de dizer, estou principalmente a provocar; em sentido amigável e brincalhão, claro).<BR/><BR/>A matriz de pensamento que enforma a reflexão de JMC parece-me de facto ainda marxista qb, logo onde começa por tomar – não sei se de empréstimo se de facto – os conceitos fundamentais com que opera: base, super-estrutura, relações de produção, e os tais pressupostos sem cuja realização prévia não é possível conceber uma revolução, que não são outra coisa senão aquilo que o vocabulário marxista designa por “condições objectivas”. Trata-se portanto ainda, parece-me, de uma crítica feita principalmente de dentro para dentro e não tanto de fora para dentro. Ou seja, uma crítica que não me parece destruir o marxismo mas antes o corrige. O que, em si mesmo, independentemente da correcção, que não estou em condições de avaliar, não me parece mal.<BR/><BR/><BR/>Segundo “acho que”: acho que os modelos teóricos, como produto do pensamento que são, só parcialmente permitem descrever ou representar um determinado fenómeno do real. E é assim, tanto no âmbito das ciências da natureza como no âmbito das ciências sociais. Uma teoria da revolução, qualquer que ela seja, omitirá sempre um leque enorme de variáveis que, não sendo identificadas, umas, e não sendo tomadas como relevantes, outras, darão sempre origem a uma larga faixa de separação, entre o modelo, e o real que pretende representar.<BR/><BR/>O modelo poderá ser asséptico e desenhado a régua e esquadro. A realidade nunca o é. Permito-me socorrer de um exemplo para ilustrar o que quero dizer. O célebre “4 de Fevereiro”, hoje nome do aeroporto internacional de Luanda, é a data que marcou o início da luta armada contra o regime colonial, aqui em Angola. Devo-lhe dizer, JMC, que os acontecimentos que tiveram lugar nesse já distante 4 de Fevereiro de 1961 – assim como muitos outros aspectos da luta travada ao longo de treze anos pela independência, pelos diversos movimentos – não tiveram nada de asséptico, limpo, ou de correspondência com qualquer geometria de traço linear. O assalto às cadeias de Luanda, em 4 de Fevereiro de 1961, tendo como objectivo a libertação dos presos políticos aí detidos, foi protagonizado por grupos, apenas armados de voluntarismo e de catanas, e com a razão toldada pelas práticas de feitiçaria – a célebre magia negra africana – a que se tinham sujeito ao longo de um período que antecedeu o acto. Até à pouco tempo ainda era viva a angolana que liderara os rituais mágicos. E são-no ainda vários dos que tomaram parte activa no acto. Será que isto, que alguns historiadores mais púdicos omitem nos seus relatos, retira o que quer que seja em dignidade e significado à luta dos angolanos pela sua independência? – por mim não titubeio na resposta: não. Nada. As crianças quando nascem também vêm envoltas em resíduos uterinos de toda a espécie, o que não constitui um quadro particularmente estético para o olhar. Mas é assim. Não há volta a dar.<BR/><BR/><BR/>Terceiro “acho que”: acho que o homem não é um ser totalmente livre nem totalmente determinado. E dentro do espaço de liberdade condicionada de que dispõe tem acesso ao uso de um conjunto de faculdades. Nomeadamente as de escolher, decidir, e de fazer uso da sua vontade – outra faculdade – no sentido de conseguir o que decidiu. Isto é voluntarismo e parece-me legítimo.<BR/><BR/><BR/>Quarto “acho que”: acho que o exercício critico que faz relativamente ao marxismo, que não menosprezo e me parece extremamente inteligente, não deve contudo substituir uma crítica mais abrangente a outros aspectos, que transcendem o próprio marxismo. Refiro-me por exemplo às dinâmicas sociais que levaram a que, uma teorização sobre a possibilidade de desenvolvimento de um processo revolucionário, que se pretendia à partida assente em pressupostos científicos, e portanto sujeita a todas as contingências de falibilidade e de carácter provisório, que caracterizam a ciência, tivesse descambado no seu contrário, ou seja, num fenómeno mais próximo do religioso. Sem procurar absolvição para Marx, e desconhecendo se ele de facto procurava a criação de uma igreja, parece-me que apesar de tudo o que em nome das suas ideias posteriormente foi feito responsabiliza principalmente os seus “apóstolos”. Algo à semelhança do que aconteceu com Cristo, que duvido tenha alguma vez pensado na igreja que veio a ser constituída em seu nome.<BR/><BR/> <BR/>(Comecei a ler os seus textos de crítica ao marxismo. Comecei pelo primeiro e encalhei logo no capítulo 1. <BR/><BR/>“A distinção entre a capacidade para produzir trabalho — a força de trabalho — e o trabalho não reflecte a realidade empírica”<BR/><BR/>Ainda não percebi porquê e, à partida, não estou de acordo. Mas continuo a reflectir sobre o assunto. Os tais dois ou três meses que inicialmente previ para este trabalho é que já concluí virem a ser curtos)<BR/><BR/>Cumprimentos<BR/>nelsonAnonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-35523293.post-43238455781495104862007-09-12T02:01:00.000+01:002007-09-12T02:01:00.000+01:00Caro José Manuel Correia,espero que tenha lido o m...Caro José Manuel Correia,<BR/><BR/>espero que tenha lido o meu último comentário deixado no blog O tempo das Cerejas, ao qual não respondeu.<BR/>Queria, apesar das discordâncias profundas que nos separam, agradecer a sua disponibilidade para o debate e para a reflexão para além do superficial, bem a atenção que dedicou aos meus argumentos, particularidades que o distinguem da espécie do franco-atirador indulgente que prolifera na blogosfera.<BR/>Passarei por aqui mais vezes.<BR/><BR/>Cumprimentos.Anonymousnoreply@blogger.com