terça-feira, 1 de março de 2022

Solidariedade com o povo ucraniano, fim à guerra de agressão e preocupação com a realidade. O mundo multipolar saído da II guerra mundial acabou, o caos aproxima-se, mesmo que demore a chegar. Cuidem-se!


O que parecia inacreditável aconteceu, e outros inacreditáveis sucedem-se em catadupa, à velocidade de um tweet. Para os povos dos países europeus não-beligerantes o mais preocupante é o belicismo que tomou conta da União Europeia em nome, pasme-se, da defesa da paz, apesar de não se darem conta. Quando se esperaria que a UE procurasse desempenhar um papel independente e de mediadora para a resolução do conflito, propondo soluções de compromisso que pudessem salvar a face de ambos os beligerantes, acontece precisamente o inverso.

Ontem à noite fiquei surpreendido com as afirmações do Alto Representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, quando se referia à aprovação do envio de equipamentos militares para a Ucrânia, de que "estamos numa guerra", que é como quem diz Portugal e os restantes membros da UE estão em guerra com a Federação Russa. E hoje, ao início da tarde, fiquei estupefacto com o veemente e empolgado discurso belicista da Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que enquanto assumia a tomada de partido contra a Rússia e a favor da Ucrânia falava de paz.

Em vez de se preocupar com a ajuda humanitária ao povo ucraniano e aos muitos milhares de refugiados que estão chegando aos países membros, e de se assumir como mediadora empenhada do conflito, a Comissão Europeia opta pelo apoio ao governo ucraniano e, de forma descarada, toma partido na guerra. Pelos vistos, estalou o verniz que tem coberto a União Europeia como "instituição democrática", defensora do "Estado de direito democrático" e da paz que tem camuflado o papel de instrumento dos interesses da Alemanha que ela tem desempenhado. Mas a irresponsabilidade da rapaziada “social-democrata” que subiu ao poder na Alemanha, comparada com a sensatez da “conservadora” Angela Merkel, é assustadora. Eles já tinham dado uma amostra, mandando borda fora um Almirante desalinhado, e confirmam-no agora.

Bastou a Alemanha decidir-se pela aplicação das sanções mais gravosas à Federação Russa, pela ajuda em equipamentos militares à Ucrânia e pelo aumento substancial da despesa com o seu rearmamento, para que a União Europeia abandonasse o pouco comedimento que até aí manifestara e se decidisse abertamente por enveredar pela escalada belicista, hipocritamente em nome da defesa da paz e da liberdade dos povos e dos Estados. Até o Presidente dos EUA, com ligações de longa data ao que se tem passado na Ucrânia, deverá ter ficado surpreendido, tratando de endurecer a sua própria posição, para vincar quem lidera a geo-estratégia de ataque à Rússia, como já sucedera com a imposição de que o gasoduto Nord Stream 2 não entraria em funcionamento, neste caso, as acções a desencadear no imediato.

Apoiem o povo ucraniano, lutem pela paz e contra a guerra, contra esta e contra outras que continuam existindo, apelem ao retorno da diplomacia para pôr cobro a esta guerra de agressão, mas não deixem de se interrogarem porquê o país mais pobre da Europa, com uma apreciável diáspora trabalhadora emigrante, alguma no nosso país, com uma corrupção endémica, em vez de se abrir ao investimento produtivo estrangeiro optou por se abrir ao investimento militar estrangeiro, por enveredar pela submissão política e militar a potências estrangeiras (da NATO) e se transformar em sua ponta de lança na ameaça à Rússia, usando o seu povo como carne para canhão. Serão os jovens de um tal Governo e o jovem Presidente heróis, como os pintam a propaganda, ou verdadeiros vilões? Olha que rica, sensata e heróica juventude a que está no poder na Ucrânia!

Não se deixem capturar pela propaganda repugnante de que a Rússia perpetra um genocídio do povo ucraniano, o que é desmentido de forma clara pelos factos e seria uma contradição com os seus próprios argumentos, quando a potência invasora tem procurado sobretudo destruir alvos militares e políticos, fez repetidos apelos a negociações, não tem colocado obstáculos ao êxodo em segurança das populações, identificando as vias e os dias (só faltou dizer a hora), e é o governo ucraniano, perante a destruição de grande parte das suas infra-estruturas militares e as dificuldades em resistir à invasão, que distribui armas a civis (em vez de os incorporar e enquadrar no exército), lhes recomenda o fabrico de coquetéis Molotov (lembranças dos tempos do golpe de Estado), transformando-os em combatentes e em alvos legítimos a abater, e acantona forças e armamento pesado nas cidades, junto a hospitais, escolas, fábricas e edifícios residenciais, colocando a sua população em risco acrescido (como fizeram outros países agredidos pelos EUA, mas que constitui violação das regras da guerra) e enviando-a deliberadamente para a morte certa.

E interroguem-se também sobre a independência deste país e sobre o poder que dizem residir no povo, vós, sobretudo acerca de uma questão de tamanha importância como é a entrada em guerra. Reflictam sobre o silêncio do P-M em exercício e do afectuoso Presidente da República, habitualmente tão pressurosos e eloquentes a fazerem propaganda ou a falarem de banalidades, ao nada dizerem sobre esta insólita situação, e porquê o Ministro dos Negócios Estrangeiros, o conhecido peneireiro e habitual trauliteiro de serviço, que tem escapado ao sumiço, nem se deu ao incómodo de chamar para consultas e informação os embaixadores dos países beligerantes, a Federação Russa e a Ucrânia, certamente por andar atarefado com as reuniões em que foi aprovada a mudança histórica da União Europeia.


ADENDA (23 horas)

A União Europeia, que há pouco tempo admoestava dois países membros (a Polónia e a Hungria) por violações do "Estado de direito democrático", aceitou o pedido de adesão da Ucrânia, um país que tem dado sobejas provas de não respeitar os direitos das suas minorias étnicas e culturais, de não respeitar os princípios do "Estado de direito democrático" ao depor através de um golpe de Estado um Presidente eleito, ao permitir a infiltração de fascistas e neo-nazis nas forças armadas e dar rédea solta a milícias armadas do mesmo cariz, que consagrou como herói nacional um antigo líder nacionalista fascista e nazi, e cujo actual Presidente, apesar de regularmente eleito por uma parte da população, não deu cumprimento aos acordos de Minsk e renunciou à diplomacia para a resolução dos conflitos, e, além disso, que está em guerra, ainda que como vítima de uma guerra de agressão.

Surpreendentemente, foi convocada uma reunião especial do Parlamento Europeu na qual participou (à distância, por vídeochamada, muito bem coreografado, como vem sendo hábito, faltando-lhe talvez algumas olheiras e a barba mais crescida, para compor melhor a figura do resistente) o Presidente da Ucrânia (convidado através de qualquer processo célere previamente preparado), que foi longa e emocionadamente aplaudido, como convém para dar cobertura ao apoio político e à ajuda em equipamentos militares que a UE passou a conceder à Ucrânia. Veremos o que irá sair desta interessante situação e que excepções serão abertas para justificar a apreciação do pedido de adesão da Ucrânia, ou para aprová-lo.

Há pouco, acabei de ouvir Sérgio Sousa Pinto, um "social-democrata" e encartado comentador de "esquerda", criticar desabridamente o PCP, porque não condenou a Rússia nem alinhou com os interesses do imperialismo americano, e referir-se à necessidade da defesa do "mundo livre", uma expressão típica da Guerra-Fria, quando o capitalismo ocidental era assim designado e o comunismo era diabolizado e os países comunistas eram designados por "cortina de ferro". Este "jovem" de meia-idade parece continuar a encantar-se com histórias da carochinha e permaneceu parado no tempo, exprimindo agora o que nunca deixou de pensar. A continuar por este caminho, secundando a direita caseira e internacional, corre o risco de um dia destes ver nas paredes "socialismo=russos". A história dos últimos cem anos está repleta de exemplos.

Aliás, estava muito bem acompanhado por Helena Matos, outra encartada comentadora e perspicaz analista que perora diariamente na Rádio Observador, essa central de propaganda de direita disfarçada de "Rádio" (no que é bem imitada em "televisão" pela TVI/CNN-Portugal, que lhe aproveita vários dos seus quadros jornalistas como comentadores), fazendo parelha com outro abalizado comentador, o inefável José Manuel Fernandes (um dos trastes que se empenhou na defesa da invasão do Iraque levada a cabo pelos EUA sob a presidência de Bush filho, então secundado entre outros pelos também inefáveis João Carlos Espada, Pacheco Pereira e António Barreto).


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