terça-feira, 6 de março de 2007

A estranha fauna que dirige o ensino e o país


De há muitos anos, o Ministério da Educação tem sido albergue de variegada fauna dirigente, muito dada ao experimentalismo em variadas vertentes do sistema de ensino.

Marçal Grilo teve a triste ideia de relançar os exames como instrumento de avaliação privilegiado para aferição da conclusão do ensino secundário, convicto de que neles estaria o remédio para a melhoria da qualidade das aprendizagens. Os exames, que podem ser um meio expedito de selecção, como muitos outros, para o ingresso em sistemas onde é limitado o número de vagas, como o ensino superior, foram reintroduzidos, ao arrepio de toda a lógica, como meio de selecção na saída do ensino secundário, sem qualquer efeito sobre a melhoria da qualidade das aprendizagens naquele subsistema de ensino; e ainda hoje, apesar da reintrodução dos exames, as escolas do ensino superior não podem usá-los para seleccionar os alunos que recebem, única função que poderiam desempenhar como predictor com alguma validade.

Ana Benavente, a única que ainda tinha uma percepção da real situação de descalabro do sistema educativo, porque apegada a concepções de que os males residiam apenas na organização escolar produziu medidas avulsas de remedeio e, depois, a reforma sem pés nem cabeça que vigora, com algumas regressões notórias, nomeadamente, em relação às concepções sobre necessidades educativas especiais e à função inclusiva da escola regular, únicos campos em que se avançara alguma coisa nos últimos anos. O aumento da heterogeneidade da população escolar, com a escolarização dos filhos das comunidades de imigrantes, e a acentuada alteração dos valores sociais dominantes só vieram contribuir para piorar uma situação já de si grave. A indisciplina na escola, que já era grande, em parte devida à perda de autoridade e ao demissionismo do corpo docente, acabou transformando-se em violência, com o aumento exponencial das agressões verbais e físicas. Longe vão os tempos em que apenas os ciganos aviavam porrada aos professores.

De então para cá, com as ministras Seabra e Rodrigues, pessoas totalmente a leste do paraíso em relação à gestão do sistema de ensino, tem sido o descalabro total. Valeu que a anterior não teve tempo para barafundar e espatifar mais, tal era a inépcia da senhora. A actual, uma tecnocrata sem noção da especificidade do sistema de ensino como objecto de gestão, rodeada de incompetentes com provas dadas, como é o caso do pesporrente secretário Lemos, tem tido como função primordial reduzir drasticamente as despesas, tomando como alvo os professores, fomentando conflitos desnecessários, encerrando escolas a eito, num contributo notório para acentuar a macrocefalia do país (no que é excelentemente acompanhada pelos seus colegas de outras áreas Correia de Campos e António Costa), retomando a panaceia do exame, impondo-o por tudo quanto é ciclo, tratando os diferentes como deficientes…

A fraca qualidade do sistema de ensino, visível pela baixa qualificação dos jovens portugueses que por ele passam, e da qual toda a gente clama, tem todos os ingredientes para piorar, até bater no fundo, produzindo cada vez maior quantidade de analfabetos funcionais. Os experimentalistas que ocupam a pasta da Educação, desta vez, nem têm qualquer noção sobre qualquer experiência; a sua função assemelha-se mais à de criadores de problemas, somando-os aos existentes, que depois se entretêm a apagar os fogos que atearam, desejando que o tempo passe sem grandes estragos como rescaldo. Quem sabe se um dia destes não os veremos a encomendar missas, clamando pela orientação e pela ajuda da Divina Providência, a exemplo de um seu colega cobrador de impostos.

Como o sistema de ensino, assim o país, conduzido pelo Pinóquio Tecnocrata, sorrateiramente autoritário, que nos calhou em sorte e que cá vai aplaudido pelo centro e pela direita. Sem rumo coerente para o incentivo do aumento da capacidade produtiva do país, apenas apostado na redução do défice e na manutenção dos salários baixos, por este andar, ou nos pomos a pau ou daqui por algum tempo estaremos todos feitos, com salários ainda mais miseráveis e de esperança esfumada. Se ao Pinóquio Tecnocrata se juntarem os dois outros artistas de renome — o Sebastião Encoberto e o Chopin Violinista — voltaremos a ter um trio de ataque de alto gabarito a dar-nos música. Então, nem a União Europeia nos safará de um grande abanão. Se antes não tratar de nós o terramoto que aí vem…

Ai Portugal, Portugal… de que estás à espera para correr estes políticos a varapau?

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