terça-feira, 12 de junho de 2007

Ele há povos felizes, mesmo com lágrimas!


Cautelosa e com algum sentido do ridículo perante a fraca participação dos trabalhadores do sector privado, a CGTP-Intersindical escudou-se no próprio dia e nos seguintes com a falta de números fiáveis para não qualificar o nível de participação na greve geral do passado dia 30 de Maio. Aos irrisórios números de aderentes propagandeados com afã pelos representantes do governo, preferiu contrapor exemplos concretos que demonstravam sucessos parciais e realçar as duras condições de intimidação e de coacção em que os trabalhadores exerceram o seu direito à greve. Menos comedido, porque apostara em força na organização da greve geral que impusera insensatamente à central sindical, o PCP desde logo teceu loas ao sucesso daquela jornada de luta.

Feito o balanço da greve, refreando um pouco os ânimos e iludindo a menor participação comparada com a de outras greves gerais do passado, o PCP lá qualificou a grandiosa jornada de luta como a maior contra um governo do PS. Do contributo da greve para o sucesso dos objectivos apontados nem uma linha; e para que não restassem dúvidas sobre a grandiosidade do evento foi enfim avançado, em uníssono com a central sindical, um número mais do que fiável, porque baseado no somatório dos números reais apurados pelo divino mestre: mais de um milhão e quatrocentos mil participantes. Um verdadeiro sucesso, como os comunistas se afadigam agora a propagandear!

Extraordinária sagacidade táctica a dos dirigentes sindicais portugueses, que usam as greves gerais como arma defensiva e as decretam nos momentos em que os trabalhadores têm a sua capacidade reivindicativa mais debilitada e os ânimos enfraquecidos. Estranho movimento sindical o português, que tal como o partido que o dirige detém o virtuosismo de transformar cada derrota em estrondosa vitória. Surpreendente capacidade política a do PCP, que em nome da luta dos trabalhadores portugueses por melhores condições de vida tem contribuído activamente para a manutenção do nosso atraso, porque é ele que lhe permite ir existindo.

Perante tamanho sortilégio, não admira que os trabalhadores portugueses vivam no melhor dos Mundos, confiantes num movimento sindical e num partido comunista fortes zelando pelos seus interesses, ainda que as constantes vitórias apenas lhes permitam ir existindo com a maior precariedade do emprego, tendo dos salários mais baixos da União, conhecendo a maior taxa de desemprego registado dos últimos vinte anos e constituindo dos maiores fluxos imigratórios na Europa comunitária. É caso para dizer: ele há povos felizes, mesmo com lágrimas!

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