terça-feira, 2 de outubro de 2007

Ainda não encontraram a competência? Chiça!


Nem sei porque escrevo sobre isto. Talvez porque este caso seja um espelho da incompetência que grassa pelo país e porque a indignação com tanta trapalhada não pôde ser contida.

Um maduro, que ainda por cima é o chefe da investigação policial do caso do desaparecimento da menina inglesa na Luz, veio a público tecer considerações sobre a orientação da investigação feita pelos seus colegas ingleses. É mais uma daquelas situações em que a polícia, em vez de investigar, se entretém a mandar umas bocas. Além de deselegante e inconveniente, a acusação raia o absurdo, porque certamente os seus colegas ingleses não têm por objectivo defender presumíveis criminosos.

O autor de tais declarações parece ter a seu crédito a solução do caso do desaparecimento da menina da Figueira, obtida pela confissão dos presumidos e condenados autores. Neste caso da menina inglesa, os seus métodos de solução dos crimes por obtenção de confissões parecem ter falhado. Para chegar à verdade e descobrir os criminosos não basta a convicção pessoal em indícios; é necessário a prova fundamentada. Na ausência de provas credíveis, o decorrer do tempo conduz ao desespero, daí a imponderação e o despautério. Não admira se amanhã aparecer um desmentido público destas declarações tão absurdas.

Este caso, depois de tanto alarido e de tantos atropelos, mostra-se de difícil solução, ninguém o contesta. Mais uma razão para que a sua investigação seja entregue a gente competente. Impõem-se, portanto, umas quantas perguntas. Será que a Direcção da Polícia Judiciária ainda não encontrou entre os seus quadros alguém qualificado para dar uma ajudinha? Será que é assim tão difícil encontrar a competência no seio da corporação? Não poderão, por acaso, desviar alguém de outros casos difíceis? E não acham que seja altura de mandar calar quem se deve ocupar com a investigação em vez de se entreter a mandar palpites e acusações gratuitas?

Há, certamente, polícias competentes, capazes de conduzirem investigações difíceis. De que estão à espera? Ainda não se aperceberam do risco do descrédito que paira sobre a Judiciária e sobre o país? Mostrem, ao menos, que são menos maus do que os ministros das polícias e dos tribunais. Não é difícil.


Adenda (04.10.2007).

O maduro foi demitido do cargo que ocupava. Era o mínimo que a Direcção da PJ poderia ter feito. Falta arranjar substituto capaz e reforçar a equipa de investigadores. Descontrolou-se, dizem. Pudera. Com o tempo a urgir e nada de novo a surgir, pouco restava se não utilizar fracos indícios como se fossem provas fundadas e assim formar a convicção da culpabilidade dos pais. Mesmo que esse venha a ser o desfecho do caso, tem de ser provado, não meramente indiciado. Até a investigação descobrir a verdade, são escusados os palpites.

Uma coisa, porém, saltou à vista, mesmo para leigos: como terá aquele investigador chegado à conclusão de que a suposta morte da menina teria sido acidental? Não tendo prova, pode supôr-se que tenha sido pela adivinhação. Tais dotes, porém, são o que menos interessa à verdadeira investigação policial; mas são elucidativos do desespero a que podem conduzir as dificuldades colocadas por um caso complicado.

Infelizmente, nas reacções ao desenrolar deste caso pululam as opiniões, que por infundadas não têm qualquer valor e se reduzem ao palpite. O povo tem direito à descoberta da verdade e à detenção dos criminosos. É trabalho da Polícia Judiciária seguir pistas, descobrir indícios consistentes e transformá-los em provas fundadas, para que seja feita justiça. Esperemos que a abnegação e a competência dos investigadores dêem os seus frutos.

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