sábado, 1 de novembro de 2008

Sortudos, os capitalistas, que compram essa mercadoria mágica a força de trabalho


A actual crise do capitalismo — crise provocada no capitalismo pela agiotagem, pelo rentismo especulativo e pela cartelização mafiosa, actividades que extravasam do capitalismo idealizado, e por isso são tidas por espúrias — tem motivado um renovado interesse pelo marxismo. Ele é a corrida à compra de obras famosas do Marx, do Manifesto do Partido Comunista a O Capital; ele é a realização de Congressos Internacionais sobre o marxismo ou sobre o Marx; enfim, ele é uma cornucópia de interesses que faz com que o Marx e o marxismo estejam entrando em moda.

Tamanha saga não faz aumentar a simpatia pelo comunismo marxista, mas faz suspeitar de que um destes dias o estudo do marxismo volte em força aos cursos de economia das universidades, de onde fora escorraçado, ainda que de alguns outros nunca tenha saído. Não vem mal ao mundo, antes pelo contrário, se nas universidades se passar a estudar a obra do Marx e o marxismo. Seria bom que fossem estudados e não apenas recitados. Mas este renovado interesse faz correr o risco de alguns ideólogos do capitalismo passarem a tomar o Marx como seu guia e a sua obra científica como conhecimento válido.

Se os trabalhadores assalariados já estão bem lixados com o esbulho de parte do valor do seu trabalho, através da troca desigual que efectuam com os capitalistas, que lhes é imposta pela necessidade de sobreviverem, pelos aparelhos do Estado da burguesia e, em caso de refilarem muito, pelo porrete da polícia, causas da sua desdita que os comunistas lhes escondem, imagine-se o que seria os capitalistas, com base na obra científica do Marx, passarem a negar que lhes roubam algo, ou, de modo mais finório, que se apropriam de algo que não lhes pertença por direito próprio.

Como diz o Marx, as mercadorias são trocadas pelos seus valores, a troca é uma troca equitativa, o lucro é produzido pela utilidade da mercadoria força de trabalho para criar mais valor do que o seu próprio valor, os capitalistas, ao comprarem uma tão especial mercadoria pelo seu valor e ao passarem a ser donos da sua utilidade, não roubam nada, ou, de modo mais finório, não se apropriam de algo alheio, apenas colhem o fruto de terem comprado uma tão especial mercadoria. Quando descobrirem isto, alguns ideólogos do capitalismo não vão querer melhor.

Sortudos, os capitalistas, que compram essa mercadoria mágica a força de trabalho. Mais sortudos ainda se erigirem o Marx cientista maduro, desculpando-lhe os desvarios da juventude, no seu grande ideólogo. Então, a coisa fiará mais fino!

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