domingo, 30 de novembro de 2014

Engavetaram o Pinóquio

Nunca morri de amores pela personagem. De há muito, penso que deveria ter sido engavetado por uns bons anos. Suspeito que mesmo assim não se curasse da tendência para a mentira e a vigarice, pois parece ser-lhe inata por padecer de qualquer mal que lhe distorce a percepção da realidade e deforma os valores éticos e morais. Esta tendência para a mentira, a vigarice, a burla, o tráfico de influências e a corrupção, aliás, constitui uma verdadeira doença crónica nacional, afectando milhões de portugueses, ricos e pobres, e de tão enraizada e espalhada é aceite com a mais cândida das naturalidades.

A matreirice e a rede de influências e de cumplicidades que o Pinóquio foi criando permitiram-lhe ir-se safando das diversíssimas alhadas em que se foi metendo e de que terá sacado de uns milhares a uns milhões. Apanhado agora que deixou o poder, ao contrário de muita gente sou de opinião de que é culpado dos crimes que lhe são imputados. Para mim, não goza de qualquer presunção de inocência. Era o que faltava considerar inocente um vigarista nato. Basta que a lei lha confira e a justiça lha respeite. Em minha opinião, está engavetado e bem engavetado, para já, até ser julgado.

Mas, porra! Para formar opinião, bastam-me os indícios fornecidos pela investigação jornalística, descontados do folclore. Para a aplicação da lei, o caso fia muito mais fino; a justiça busca a verdade baseada em factos, pelo que o preconceito e a opinião têm de ficar à porta. Por isso, digo: que raio de investigação é esta e que puta de magistratura é esta que se permite engavetá-lo para investigar, e ainda por cima com base num suposto crime, corrupção, em que o artista seria o único agente? Existe tal coisa ou para esta dança é necessário, pelo menos, um par?

Por outras incompetências investigativas, que além do mais não souberam rodear o polvo, o Pinóquio foi saindo ileso, beliscado, mas sadio. Por esta de agora, tarda nada e estará na rua. No pior dos casos, nem o levarão a julgamento; no melhor, não o condenarão por mais do que por fraude fiscal, um dos crimes menores de que o indiciam. Se esperam que o testa-de-ferro, amigo de longa data e actor de múltiplas traficâncias, se apresente como o outro dançarino da corrupção bem poderão esperar sentados. Cabe dizer: e se fossem apanhar macacos? Fariam também tristes figuras, mas talvez tivessem mais êxito.

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