quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O BES: mais um caso de polícia

Muito provavelmente, o grupo Espírito Santo iria à falência, tal o monstro criado para alimentar uma desmedida ganância por dinheiro fácil. Eventualmente, o Banco Espírito Santo seguir-lhe-ia as pisadas, pelo atoleiro em que se meteu para sustentar a criatura insaciável. Mas afundá-lo assim e enterrar nele milhões dos contribuintes para de seguida vendê-lo tão à pressa assado lembra mais um cambalacho do que outra coisa. E dos grandes. Ao lado dele, o do BPN parece brincadeira de crianças.

Ancorada a escandaleira dos submarinos na segurança da doca da prescrição e do arquivamento, será agora que a mão da justiça chegará aos políticos no activo? É que têm sido eles os responsáveis pelas escandalosas transferências de dinheiros públicos para os bolsos das quadrilhas de parasitas privados. Mesmo aqui, algum dia a impunidade terá de acabar, carago! As cadeias ainda dispõem de lugares para VIPs, e na das Mónicas abundam as vagas. Esta seria uma boa oportunidade para um justiceiro mostrar verdadeiramente a quem serve e acabar com as dúvidas.

E seria também uma boa oportunidade para as Comissões Parlamentares de Inquérito, em particular a do caso BES, deixarem de pretender substituir o Ministério Público, porque não têm meios para investigar (visto a investigação não se fazer apenas com depoimentos de testemunhas) nem poderes para acusar, deixando à justiça o que é do seu foro, e passarem a dedicar-se a inquirir os responsáveis políticos pelas decisões da criação duma nova instituição bancária.

A criação de um novo banco, a partir de património e de activos de outro falido e de dinheiros públicos vultuosos disponibilizados sem qualquer suporte legal nem garantias de reembolso, com personalidade jurídica não muito bem definida, ao que se diz, de propriedade pública transitória, porque destinado a ser rapidamente privatizado, vendido apressadamente com perdas previamente admitidas, configura uma descarada transferência de dinheiros públicos para bolsos privados que exige ser cabalmente explicada.

Em vez de pretenderem ilustrar-se ficando a conhecer os meandros, os instrumentos e os autores das vigarices privadas, os deputados membros bem poderiam orientar agulhas para a clarificação da actuação dos agentes governamentais (ministros, ministras, reguladores e sei lá mais quem) envolvidos nestas negociatas ruinosas para o erário, visando a sua responsabilização política, se fosse caso disso. Não teriam tanta audiência, mas cumpririam o seu mandato de fiscalização da acção do Governo.

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