quinta-feira, 1 de abril de 2021

Se te portares mal, chamo o "Viva a Rússia"! Remédio santo: o "Viva a Rússia" comia criancinhas...


Apesar de velho pedinte andrajoso, que regularmente nos batia à porta para recolher a habitual esmola de poucos tostões ou de um bocado de pão com algum conduto, só a sua figura grotesca de farta cabeleira e longas barbas grisalhas já nos assustava, por falar sozinho ladaínhas incompreensíveis e, de quando em vez, erguendo um braço de punho cerrado, soltar aqueles gritos que lhe deram a alcunha; ser comido pelo "Viva a Rússia", então, paralisava-nos de medo. O "Viva a Rússia", portanto, só podia ser comunista, a abominável canalha que além de antropófaga tinha a especial preferência por comer criancinhas ao pequeno-almoço, como dizia a padralhada.

Esta é uma história verídica da minha infância. Não acreditam que o “Viva a Rússia” comia criancinhas ao pequeno-almoço? Eu também não. Naquela altura ele era já um velho desdentado que nem as tenras criaturas, mesmo muito cozinhadas, conseguiria mastigar. Mas, em tempos de miséria, quem sabe o que faria o "Viva a Rússia", ou outros "Viva a Rússia" de outras paragens ainda mais miseráveis, para se agarrar à vida vendo-se faminto e desesperado? O efeito do mito nas mentes infantis, porém, era total. E ainda hoje a recordação de tempos muito difíceis faz reviver o mito, que parece produzir efeitos semelhantes em mentes não tão infantis…


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