sábado, 26 de fevereiro de 2022

Nuvens negras no horizonte: a China acautela-se e envia recados aos EUA


Da leitura dos jornais e da net retenho dois factos que me parecem relevantes sobre a posição da China face ao que está acontecendo com a invasão da Ucrânia pela Rússia: a rejeição de afirmações do governo dos EUA de que a ofensiva da Rússia teria tido a compreensão ou o apoio do governo chinês e o estreitamento das suas relações bilaterais com a Coreia do Norte.

A China foi constituída como principal inimigo pelos EUA — a potência imperialista dominante, mas que vê esse domínio ameaçado, para quem a guerra permanente é o instrumento de sobrevivência — e sabe que irá ser o próximo alvo do imperialismo norte-americano. A recente aliança militar constituída pela Austrália, Reino Unido e EUA para a região Indo-Pacífico (AUKUS), visando conter a sua crescente influência na região, é um claro exemplo do que está em preparação. Em função da tradicional agressividade norte-americana, a China acautela-se enviando recados significativos. Transcrevo:


“Posição da China”

“A China respeita a soberania e a integridade territorial de todos os países, e também entende as preocupações de segurança razoáveis da Rússia, já que uma história complexa e especial está por trás da questão da Ucrânia, disse o conselheiro de Estado e ministro das Relações Exteriores Wang Yi ao ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov.

Falando com Lavrov por telefone, Wang disse que a China pede uma renúncia completa a qualquer mentalidade da Guerra-Fria, bem como um sistema de segurança para a Europa que seja equilibrado, eficaz e sustentável e alcançado por meio de diálogo e negociações.

Lavrov disse que a Rússia foi forçada a tomar as medidas necessárias, já que os Estados Unidos e a OTAN voltaram atrás com as suas promessas de não expandir a organização para o leste, se recusaram a implementar o acordo de Minsk II e violaram a Resolução 2202 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying, disse também que a Rússia, um grande país independente, decide e implementa sua diplomacia e estratégias com base em seu próprio julgamento e interesses nacionais. Acrescentou que os laços China-Rússia são de não aliança, não confronto e não visam terceiros.

Hua fez estas declarações numa conferência de imprensa depois de o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, ter dito que a China deveria instar a Rússia a “recuar” e “reduzir” as tensões com a Ucrânia, e ter acrescentado que a crescente parceria China-Rússia é “preocupante”.

Sobre a sugestão dos EUA de que Moscovo fez a operação militar porque ganhou o apoio da China, Hua disse acreditar que o lado russo ficará “muito descontente ao ouvir tal ideia”. Os laços China-Rússia são fundamental e essencialmente diferentes dos “pequenos grupos” que os EUA vêm procurando, baseados em linhas ideológicas, para criar confronto e separação, disse Hua.

A China não está interessada e não pretende imitar a mentalidade de 'inimigo ou amigo' da Guerra-Fria ou a prática de remendar as chamadas 'alianças' e 'pequenos grupos'", acrescentou.

Hua disse ainda que os EUA não estão qualificados para dizer à China o que fazer para respeitar a soberania dos Estados e a sua integridade territorial. A China tem salvaguardado consistente e firmemente os princípios da Carta da ONU bem como as normas básicas que orientam as relações internacionais.

Os EUA, no entanto, nos 250 anos desde a sua fundação, não se abstiveram de realizar operações militares noutros países. Esse país certamente tem uma compreensão diferente da nossa quanto a respeitar a soberania dos Estados e a sua integridade territorial, disse Hua. A comunidade internacional sabe isso claramente.

Quando perguntado se a China forneceu ou planeia fornecer armas à Rússia, Hua disse que a China não toma a iniciativa de fornecer armas a outros que enfrentam o risco de conflito, “ao contrário dos EUA, que forneceram uma grande quantidade de equipamentos militares à Ucrânia”.


China anuncia cooperação com a Coreia do Norte tendo em conta “nova situação”

“O presidente da China, Xi-Jinping, anunciou esta madrugada de sábado uma nova fase de cooperação entre Pequim e Pyongyang numa não especificada “nova situação” que, segundo afirma, se vive, como é noticiado pela agência estatal norte-coreana e reportado pela AFP.

A Coreia do Norte realizou uma série inédita de sete testes de mísseis em Janeiro, incluindo o seu mais poderoso do género desde 2017, numa altura em que as negociações com os Estados Unidos estão absolutamente paradas.

No entanto, os testes não se realizaram durante o período dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, naquilo que muitos analistas entenderam tratar-se de uma decisão tomada em deferência com Pequim.

A China é o mais importante aliado da Coreia do Norte e o seu maior fornecedor económico, numa relação que foi forjada no resultado da Guerra da Coreia dos anos 50.

Segundo noticia a agência oficial norte-coreana KCNA, o presidente chinês enviou ao seu homólogo norte-coreano uma mensagem afirmando estar pronto para “desenvolver as relações sino-norte-coreanas de amizade e cooperação” tendo em conta uma “nova situação”.

A KCNA não elabora sobre que “nova situação” Xi-Jinping se estará a referir nem o que implica. A Coreia do Norte está a sofrer uma profunda crise devido a um bloqueio às importações auto-imposto devido ao coronavírus, mas reiniciou no mês passado o comércio transfronteiriço com a China”.


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