quinta-feira, 12 de maio de 2022

NATO, essa “aliança militar defensiva”


Segundo noticiado, a Finlândia (país neutro desde há 75 anos) e a Suécia (com uma tradição de neutralidade de dois séculos) preparam-se para aprovar os seus pedidos de integração na NATO. Pela narrativa “ocidental” ou do “mundo livre”, uma “aliança militar defensiva” que alberga os EUA, a Grã-Bretanha e os países europeus continentais mais desenvolvidos economicamente e militarmente melhor equipados prepara-se assim para passar dos actuais 30 membros para 32 e para se estender ao longo de toda a fronteira ocidental da Rússia, aumentando a capacidade de bloquear os movimentos da sua frota no Mar Báltico e no Mar Negro.

Esta decisão, que vem sendo ponderada desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, é tomada numa altura em que a Rússia, por debilidades várias, atravessa dificuldades de progressão no terreno na sua aventura militar, mas é fundamentada no aumento do risco para a segurança daqueles países que a Rússia terá passado a representar desde então. É estranho que um país económica e militarmente debilitado, como é o caso da Rússia, passe a constituir uma ameaça maior agora do que dantes, mas é esta a narrativa fantasiosa que está sendo usada pelos medíocres políticos que governam os países europeus para justificarem a política guerreira em que envolvem os seus povos, no imediato, entre outras coisas, para obterem ganhos nas disputas eleitorais em que alguns estarão envolvidos ainda este ano.

Outra narrativa fantasiosa propalada continuamente é a de que a NATO seria uma aliança militar “defensiva”, o que contraria todos os factos e evidências. Desde a sua criação, em 1949, a NATO tem como objectivo a guerra contra a Rússia (até 1991, contra a URSS), e em diversas ocasiões traçou planos operacionais e realizou manobras para concretizá-la. Nunca a NATO interveio como aliança militar na defesa de qualquer dos países membros, porque eles não foram ameaçados nem, muito menos, atacados pelo seu inimigo (embora a Turquia tenha sido atacada por outros seus inimigos). Ao invés, as suas intervenções foram sempre ofensivas, contra países que os EUA designaram como seus inimigos e sem que tenham sido por eles atacados.

Os exemplos mais recentes do carácter da NATO como aliança militar ofensiva ao serviço dos interesses dos EUA foram a participação nas guerras de agressão que a potência imperialista dominante perpetrou contra a Sérvia, em 1999, para concretizar a secessão do Kosovo, contra o Iraque, em 2003, com base na patranha de que este país possuía armas de destruição massiva e que ameaçava os seus interesses, e contra a Líbia, em 2011. Ao contrário do que é cinicamente difundido, a NATO foi sempre um instrumento militar da política agressiva dos EUA contra a Rússia (e também contra outros países, ao sabor dos interesses dos EUA), e ainda hoje os seus objectivos são fundamentalmente os que o seu primeiro secretário-geral, Lord Ismay, disse cruamente uma vez: “manter os americanos dentro (da Europa), os russos fora e os alemães na mó de baixo”.

O argumento mais utilizado para fundamentar o carácter “defensivo” da NATO é o famoso artigo 5.º do tratado, que estipula que a aliança só actuará em caso de agressão a qualquer dos países membros. Esta é mais uma das falácias que os EUA propalam e que os media engajados vendem para consolar mentes infantis. Se um qualquer país membro desencadear uma agressão armada contra a Rússia e esta retaliar, em legítima defesa, conforme a Carta da ONU, o citado artigo 5.º justificaria a entrada da NATO em guerra contra a Rússia. Era o papel que estava destinado para a Ucrânia se a sua admissão não tivesse sido bloqueada em 2008. A contrariedade não impediu que ela, mesmo fora da aliança, fosse usada como agente provocador. E é também o papel que a Polónia repetidamente se tem oferecido para desempenhar intervindo abertamente na Ucrânia, que por tão evidente tem sido rejeitado.

A adesão da Finlândia e da Suécia nesta altura, quando um dos argumentos invocados pela Rússia para a sua aventura militar na Ucrânia foi precisamente a ameaça à sua segurança pelo prometido alargamento da NATO a este país, visará a necessidade de aumento da segurança dos novos candidatos ou estará integrada no objectivo de “enfraquecer a Rússia” já proclamado pelos EUA, a potência imperialista dominante que a dirige? Doravante, se a Finlândia, com uma extensa fronteira comum e com forças armadas numerosas e bem equipadas, aceder à instalação no seu território de bases permanentes da NATO ou dos EUA, poderá passar a constituir uma verdadeira ameaça para a segurança da Rússia, a que ela, em função da evolução da situação e dentro do que lhe for possível, não deixará de ter de responder.

Esperemos pela narrativa que os “avançados mentais” de direita e de extrema-direita “avençados” e engajados na despudorada campanha de manipulação de massas que por aí vai, desta vez de olhos reluzentes de contentamento, nos tentem impingir para desvendar o fenómeno, tratando-nos como “atrasados mentais”.


ADENDA (2022.05.16)

Não foi necessário esperar muito pelas justificações dos falcões e das anafadas falcoas que rejubilam com a “criação de uma nova ordem mundial” pelo fortalecimento da NATO. Mesmo que na sua retorcida argumentação metam os pés pelas mãos — porque enquanto afirmam, nos seus inflamados prognósticos antes do fim do jogo, que a Rússia está derrotada na Ucrânia, por não ter conseguido atingir nenhum dos seus objectivos, justificam o alargamento da NATO pela ameaça que ela, mesmo enfraquecida, passou a representar para a Finlândia e a Suécia — os estrategas de sofá e grandes investigadores e cientistas da geopolítica mais sofisticada, que povoam as cátedras universitárias e aparecem todos os dias nos ecrãs televisivos a emprestarem um ar de “seriedade” à campanha de manipulação de massas que por aí vai, não escondem o seu contentamento.

Como os oceanos não têm fronteiras, não tardará muito a NATO alargará o seu âmbito ao mundo inteiro, do Atlântico ao Índico e ao Pacífico, ou para esse efeito estabelecerá associações com as outras alianças militares dos EUA na região (a QUAD, englobando a Austrália, a Índia e o Japão, e a recém-formada AUKUS, integrada pela Austrália e o Reino Unido), sempre como “aliança militar defensiva”, no caso, para proteger a potência imperialista dominante do perigo que a China representa para o seu domínio. Embora a próxima cimeira de Junho, em Madrid, esteja prevista ser dedicada essencialmente à admissão dos novos membros, mesmo assim dela poderá sair uma qualquer indicação sobre estes objectivos dos EUA. Então, os “avançados mentais” entrarão em êxtase, tratando-nos como “atrasados mentais”.


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