Não há maneira da burguesia dependente portuguesa perder o seu carácter parasitário. Sem capital, sem iniciativa e sem autonomia de há muito se habituou a ir mamando das diversas tetas que lhe foram aparecendo de Impérios efémeros (do da Índia das especiarias ao do Brasil do ouro e do açúcar até ao da África do trabalho compulsivo nas roças e dos diamantes), esbanjando em consumos ostentatórios ou acumulando em riquezas sumptuárias. Perdido o extenso Império colonial que não soube explorar, confinada de novo à teta do parasitismo do aparelho do Estado pelos negócios de favor e pela protecção aduaneira, restava-lhe encontrar outra teta de onde mamar para manter a tradicional opulência provinciana. Vislumbrou-a na adesão à CEE/União Europeia e nas ajudas de preparação e nos fundos de desenvolvimento estrutural que daí começaram a jorrar desde 1985/86, que em muitos casos nem teve capacidade para aproveitar em pleno e cujo resultado é conhecido.
Não é forma de estar no negócio a longo prazo, porque tarde ou cedo tais fontes se esgotam. É mais rentável e seguro explorar quem trabalha, alternativa em permanente reprodução. Para isso faltam-lhe engenho e arte, capacidades de investimento, de inovação e de gestão, e a pequena competitividade que consegue num mercado ampliado é na base da precariedade, dos salários baixos e de subterfúgios para torná-los ainda mais baixos, para o que tem contado com a prestimosa ajuda dos sindicatos, uns amarelos que criou e outros de rosa desbotado controlados por um partido dito comunista e defensor dos interesses dos trabalhadores, do povo e do país, todos ao serviço duma sua putativa “economia nacional”. A indigência da burgueia dependente portuguesa está uma vez mais bem à vista com a corrida à nova enxurrada de fundos oriundos da UE. É uma mala-pata que nos calhou e que persiste em não nos abandonar. Um fado português que apenas vai mudando de versos e de cantadores.