segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Eleições parlamentares 2022. Da surpreendente surpresa dos vencedores com maioria absoluta à comprovação de que ser muleta do PS dá um resultadão.


Acordando tarde e a más horas, BE e PCP acabaram por ser os grandes responsáveis pela maioria absoluta do partido “das famílias e das empresas”. Não pela não aprovação de um mau Orçamento do Estado com que pretenderam arrepiar caminho, mas, sobretudo, pelo apoio que lhe deram nos últimos seis anos. Em relação às eleições de 2019, cujos resultados já tinham sido maus, estes dois partidos pagaram-no caro: o PCP, perdendo 92 000 votos (-28%) e metade dos mandatos parlamentares (passando de 12 para 6), chegou ao resultado eleitoral mais baixo, e o BE, perdendo 252 000 votos (- 51%) e mais de dois terços dos mandatos (descendo de 19 para 5), sofreu uma penalização ainda maior.

Um tal descalabro eleitoral dos partidos ditos de esquerda exige-lhes uma reflexão profunda, não apenas sobre os objectivos do PS com a proposta de Orçamento e os seus truques na campanha (a culpabilização pela não aprovação do “melhor Orçamento desde 2015”, a artificial bipolarização, as pseudo sondagens e o voto útil que induziram pelo medo do regresso da direita ao poder), nem tão pouco sobre os dois últimos anos, mas sobre o acordo que conduziu à “geringonça” e as cedências oferecidas de bandeja ao PS para o seu regresso ao poder em 2015 a troco de migalhas, numa altura em que a direita estava em minoria no parlamento, porque foi isso que os conduziu para o abismo em que caíram.

Salta à vista que o papel de muletas do PS desempenhado pelo BE e, principalmente, pelo PCP tem sido uma política desastrosa. Fazer o jogo pretendido pelo adversário no seu próprio campo, integrar o “arco da governação” sem governar, reduzindo a sua autonomia política e a função de partidos da oposição que os caracterizava, tem custos muito elevados. Como em tudo na vida, alguns erros pagam-se caro, e em política não há gratidão que os compense, muito menos da parte de um carreirista político nato. Espero que aprendam a lição de que “a quem muito se abaixa o cu lhe aparece”. Têm dois anos para o mostrarem, tempo provável para que o malabarista mude para poleiro mais calmo e rendoso.

Escudado numa táctica cuidada, já ensaiada com êxito noutras ocasiões e durante a fase mais aguda da pandemia, e numa campanha eleitoral bem programada, ambas de cunho profissional, complementadas com os seus habituais tiques, truques e traques (as mensagens subliminares do seu voto antecipado, não se sabe com que fundamento, quando a farsa da ameaça da direita estava no auge, e do uso de samarra alentejana foram de alto gabarito), o conhecido malabarista, confirmando ser um "verdadeiro artista do circo, da rádio, TV e disco e da cassete pirata", não deixou escapar as oportunidades de vitória e de vingança. A "pipa de massa" que aí vem para distribuir justificava bem os lances arriscados.

Borrem-se de medo com o crescimento eleitoral da extrema-direita (IL e Chega) à custa dos partidos tradicionais da direita (PPD e CDS), pela abstrusa tentativa do chefe do PPD de o guinar para o centro-direita, e também à vossa custa; entretenham-se a catalogar de fascista o partido populista, xenófobo e do ressentimento; não reflictam seriamente sobre a vossa política social-democratista de sorrisos, de rodriguinhos e de lamúrias que tem suportado a política de direita; persistam na disponibilização para conversações com quem vos humilhou (para já, caso da triste figura do BE); e não se ponham a pau com o verdadeiro artista e verão o que vos acontece. Espero que não esqueçam o coro de júbilo dos capitalistas e vejam com quem estiveram aliados.


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Ideias peregrinas da campanha eleitoral (2). Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV): esquecido para os debates e reiteradamente desaparecido sem combate


Os jornais e as TVs não o consideram partido com representação parlamentar, grupo a que restringiram os partidos convidados para os debates realizados na pré campanha eleitoral, e não o incluíram; mais uma vez, ele não tugiu nem mugiu. Parece que toda a gente já interiorizou que o PEV é um apêndice nado e criado pelo PCP e trata-o em conformidade.

Não seria tempo de o PCP acabar com a farsa que montou e apresentar-se como ele próprio às eleições, integrando nas listas os independentes que quisesse? Tem custos, porque dois grupos parlamentares têm mais tempo na Assembleia e sacam mais dinheiro do erário público do que apenas um. Mas seria um passo significativo para a honestidade tão propalada pelos comunistas.


quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Ideias peregrinas da campanha eleitoral (1). PPD: os patrões são tudo malta porreira que quando lhes baixam os impostos abrem os cordões à bolsa e aumentam os salários dos trabalhadores.


E assim gente "séria", contabilista que a despropósito até afirma saber o que é a mediana, continua sem vergonha a enganar descaradamente o pagode.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Debate Costa vs Jerónimo: "mas algum primeiro-ministro no mundo provoca eleições antecipadas no meio de uma crise destas?"


O debate eleitoral entre António Costa, na qualidade de secretário-geral do PS, e Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, atingiu um ponto alto da habitual hipocrisia usada na política. Tó gosta do poleiro, o homem das empresas e das famílias, para quem não existem capitalistas e trabalhadores, baralhou e encostou às cordas o cordato Jerónimo, o homem dos trabalhadores, do povo e do país, a quem faltou a coragem para responder à questão-chave colocada no debate.

Disse o matreiro, à laia de pergunta, “se alguém acha que um primeiro-ministro, no meio da mais grave crise sanitária que alguma vez tivemos de viver, no meio de uma enorme incerteza em que tivemos de governar estes dois anos… neste momento de uma enorme incerteza, onde tivemos a maior crise económica que o país alguma vez teve, onde fizemos das tripas coração, tudo para andar a proteger empresas, proteger empregos, proteger rendimentos, numa crise económica destas, mas algum primeiro-ministro quer abrir uma crise e quer ir para eleições? Mas alguém, mas algum primeiro-ministro no mundo provoca eleições antecipadas no meio de uma crise destas?”.

Jerónimo de Sousa não ripostou com a frontalidade que se mostrava necessária, justificando a acusação do PCP, que os factos corroboram plenamente, de que com a proposta de Orçamento do Estado o governo e o PS não procuravam soluções mas pretendiam eleições: sim, o primeiro-ministro de Portugal, o homem para quem o salário mínimo possível em 2023 era de 750 euro e que agora, ainda “no meio de uma crise destas”, à laia de rebuçado de engodo eleitoral afirma no programa eleitoral do PS que o salário mínimo em 2026 já será de 900 euro.