quarta-feira, 27 de maio de 2020

Covid-19: a leviandade e a incompetência da corja

A suborçamentação crónica do SNS (Serviço Nacional de Saúde), levada a cabo em maior escala desde os tempos da troika/Passos Coelho e continuada nos governos do Tó da Costa (agravada através das cativações orçamentais, pela obsessão do dito mais do seu ministro das finanças com o saldo positivo das contas públicas), gerou o pânico nas hostes governamentais quanto aos previsíveis resultados desastrosos, em termos de saúde pública, que a incapacidade do SNS comatoso teria na assistência e no tratamento dos afectados pela epidemia covid-19. Para um Governo que age com base nos índices de popularidade que lhe conferem a permanente auto propaganda e a presença assídua nos meios de comunicação, a catástrofe dos incêndios de Pedrógão Grande, ainda viva, não poderia repetir-se. Desse pânico resultou a indução do pânico na população, operação realizada com desvelo pela comunicação social de serviço (que até imagens de salas de cuidados intensivos mostrou), ávida pela emoção como produto facilmente vendável.

Como o “estado de alerta sanitário” que declarou não lhe parecesse suficiente, apesar do muito que permitiria fazer, do reforço da recomendação das medidas de higienização e de afastamento e protecção individual à disponibilização dos produtos necessários (que passaram a escassear no mercado), à diversificação dos horários de trabalho e ao aumento da frequência dos transportes, para evitar as habituais sobrelotações, com a leviandade que lhe é típica esta corja optou por fechar escolas e a generalidade dos serviços públicos e por decretar o “estado de emergência”, impondo o confinamento residencial compulsivo e a suspensão e limitação de direitos constitucionais fundamentais (continuando a violar a constituição findo o “estado de emergência”, com a declaração governamental do “estado de calamidade”, pretendendo equipará-lo nalgumas arbitrariedades ao “estado de emergência”). Chegou ao ponto, caricato, de impedir a saída das pessoas à rua a não ser para actos inadiáveis devidamente justificados e certificados, mas permitir a saída dos cãezinhos para os seus passeios higiénicos diários acompanhados dos respectivos donos.

Daqui por uns tempos poderemos ficar a saber com alguma segurança, se os números não forem manipulados ao serviço da propaganda, quantas mortes a mais do que as habituais ocorreram no curto período de dois ou três meses sem terem sido provocadas pela covid-19, porque delas ninguém fala agora. Desde o afastamento de doentes dos hospitais, pelo medo entretanto instalado, até à paralisação do SNS quanto a consultas, exames, tratamentos e cirurgias aprazadas devido ao desvio de meios (já escassos) para o atendimento aos casos de covid-19 (que se mostrou exagerado, e provavelmente se mostraria mesmo com outra evolução da epidemia sem o confinamento residencial compulsivo), veremos quais os efeitos na mortalidade excepcional, no aumento da morbilidade futura e, eventualmente, no arrastamento dos níveis altos de contagiosidade provocados por uma política incompetente e preocupada fundamentalmente com o impacto negativo que um número de mortes causado pela epidemia maior do que o causado pelas gripes sazonais teria na popularidade governamental. Apesar de decisões tão irresponsáveis, a propaganda à “eficácia” do SNS é difundida com a maior desfaçatez.

Em termos políticos, assistiu-se à intervenção abusiva do Estado na vida dos cidadãos, em nome duma hipotética segurança sanitária, e em termos económicos irá assistir-se a uma das maiores crises das últimas décadas. Pela dependência do exterior da economia portuguesa, do turismo à exportação de bens, a crise económica aconteceria de qualquer modo, devido à retracção de todos os mercados, mas o confinamento residencial compulsivo agravou-a no que respeita ao mercado interno. Nesta situação calamitosa, a recuperação económica irá ser demorada e incerta. Para além das exportações estarem dependentes da evolução dos mercados externos, o que torna incógnito o ritmo da sua recuperação, o próprio mercado interno, pelo medo ainda instalado, pelo aumento do desemprego e pela redução dos salários, levará também a recuperações difíceis e demoradas e ao aumento das falências, com mais reflexos negativos no emprego, nos salários e no nível de vida dos trabalhadores. Sabemos quem já está a pagar e continuará a pagar a factura da crise e quem já mama das ajudas do Estado e mamará da teta das eventuais ajudas que possam vir da UE: uns e outros, os mesmos do costume. É essa, sempre foi, em tudo o que importa, a política do corjedo que nos tem governado, que de há uns tempos se mostra tão unido.

No meio desta tragédia assistimos a alguns episódios caricatos, que sempre contribuíram para nos fazer sorrir e desanuviar um pouco. Os mais risíveis foram talvez a “farsa das máscaras” (não recomendação do uso em recintos fechados por induzirem “falsa sensação de segurança”, quando seriam mais uma barreira, depois a recomendação e agora a imposição do uso, sob pena de coimas), protagonizada pelas duas louras (jeitosas, diga-se) destacadas para as sessões diárias de propaganda; o optimismo crónico do Lacerda, falando quase sempre no futuro quando se referia aos materiais sanitários encomendados ou a sê-lo, mas sem confirmar os que de facto vinham chegando aos bochechos; e agora os espectáculos mediáticos para incentivar o desconfinamento e a retoma das actividades comerciais e industriais a que se prestam os dois artistas-mor do reino (anunciando ou a irem descontraidamente comer a restaurantes ou a darem uma saltada à praia, para passarem uma tarde descansada ou darem um rápido mergulho, antes mesmo do início da época balnear!). Afinal, a epidemia sempre serviu para pôr a nu a leviandade e a incompetência da corja que nos governa.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

O oportunismo ao rubro de verde vestido (IX). Ouvir as lamúrias do Jerónimo de Sousa na Assembleia da República já causa pena. Antes que a coisa se agrave, tirem-no daquele filme, senão um destes dias ainda assistimos aos seus desabafos, agradecido e obrigado, a pedir mais umas migalhas ao “senhor primeiro-ministro”…

domingo, 3 de maio de 2020

1.º de Maio 2020: mais uma falta de vergonha da burguesia

Através dos seus chefes e comentadores, o corjedo barafustou, vociferou indignado contra a celebração da data socialmente mais significativa para os trabalhadores assalariados, símbolo da sua luta de resistência contra a exploração. Como é costume, esta gente sem escrúpulos “esqueceu-se” de tudo o resto, a começar pelas deploráveis condições de falta de segurança sanitária como milhões de trabalhadores se deslocam e trabalham diariamente para que nada lhe falte nas suas fartas mesas. Depois de ter despedido milhares de trabalhadores e de ter reduzido os salários de outros milhares, à pala do "estado de emergência", é preciso descaramento...

Nunca pensei vir a assistir, depois do “25 de Abril de 1974”, à suspensão e à limitação de direitos constitucionais fundamentais impostas pela declaração do “estado de emergência” e a manifestações tão grotescas de ódio de classe contra os trabalhadores. Juntando o alarido contra as comemorações do “25 de Abril”, temos o retrato do reaccionarismo ideológico e político da burguesia portuguesa. Realmente, nada está garantido, diga a Constituição o que disser (como afirma o Tó da Costa, chefe da corja no poleiro). Sinal dos tempos conturbados que vão correndo…