domingo, 27 de março de 2022

Aonde irá levar o desvario dos novos aprendizes de feiticeiro europeus?


Imaginem que a Rússia, em resposta à guerra económica e política que lhe foi movida pelo “mundo livre”, através de sanções sem paralelo e do roubo dos activos em divisas no estrangeiro do seu Banco Central (em violação do direito nacional e internacional), e à intervenção militar indirecta da NATO na Ucrânia, através do fornecimento de armamento e de outras “ajudas”, retaliava com a suspensão do fornecimento de petróleo e de gás aos países hostis. Que mais chamariam ao “novo pequeno Czar”?

Depois das inconfidências que o “jovial” Presidente dos EUA deixou escapar durante o seu recente périplo europeu (NATO/CE/G7) acerca da função dos soldados americanos estacionados na Polónia e da necessidade de mudança de regime na Rússia, obrigando a “Casa Branca” e, depois, o Secretário de Estado, Antony Blinken, a corrigi-las, que os media atribuíram a gaffes banais, e dos insultos que dirigiu ao “novo pequeno Czar”, o "carniceiro", que outra cartada estará sendo urdida?


ADENDA (28.03.2022)

Os ministros da energia dos sete países mais industrializados (G7) rejeitaram por unanimidade hoje efectuar o pagamento do gás russo em rublos, como pretendido pela Federação Russa. O ministro da Economia da Alemanha, país que detém a presidência do G7, Robert Habeck, afirmou que “todos os ministros do G7 (energia) concordaram que esta é uma violação unilateral e clara dos acordos existentes” e que o “pagamento em rublos não é aceitável e (...) pedimos às empresas envolvidas que não cumpram a exigência de Putin” (do DN). A Federação Russa reagiu a esta decisão “do G7 com a ameaça de cortar o fornecimento de gás, segundo noticia a Sky News, que cita a agência de notícias russa Ria” (do DN).

O pagamento do gás em rublos é uma forma de obrigar os compradores a adquirirem-nos no mercado internacional, atenuando a quebra da cotação da moeda russa (com a qual a Federação Russa tem vindo a cumprir as obrigações internacionais de pagamento da sua dívida pública após o confisco das divisas do seu Banco Central no estrangeiro) e, em simultâneo, de a Rússia se desligar do dólar como moeda de pagamento internacional, como aliás vem acontecendo com a diversificação das moedas de pagamento do petróleo por vários países produtores. Convém lembrar que a intenção de abandonar o dólar como moeda de pagamento do petróleo foi a causa das guerras de agressão dos EUA ao Iraque, em 2003, e à Líbia, em 2011.


sábado, 19 de março de 2022

A Ucrânia ao 24º dia de guerra


Depois do êxodo de milhões de refugiados, de milhares de vítimas (mortos e feridos), de meio país destruído e do mais que está p'ra vir, o “herói” marioneta abandonou as fanfarronices e já só repete a voz do manipulador que o usou de forma tão descarada e cínica.

Como poderá sair impune um tal “herói” que sacrificou o seu povo e o seu país aos interesses da potência imperialista dominante que o financiou, armou e incitou para a guerra em que usou o martirizado povo ucraniano como carne para canhão? Fugindo com a restante escumalha, abrigando-se no exílio? Arrependendo-se do nefando papel e dando um tiro nos cornos, ou dando-lhe um dos sicários, por traição, e o crime atribuído ao inimigo, para criar um supremo mártir?

E as restantes marionetas que com ele fizeram coro, explorando o sofrimento das vítimas e manipulando as consciências de quem com elas genuinamente se condói, como conseguirão elas escapar do tormento? Seria difícil se tivessem consciência. Vale-lhes que são desprovidas dessa coisa tão simples que distingue os humanos do resto dos animais.

Há diferenças entre a subserviência inconsciente do “herói” marioneta e a arrogância calculista do “novo pequeno Czar”. A principal é a de que não há comparação entre agredido e agressor, entre as vítimas que sofrem a agressão e o algoz que a produz e, em simultâneo, provoca o sofrimento do seu próprio povo. Esperemos que o “novo pequeno Czar” não saia impune e tenha o castigo merecido.

Nesta guerra por interposto actor sabemos quem é o antecipado vencedor: quem a urdiu, financiou e prolongou o possível para mais vender e, em simultâneo, mais enfraquecer o seu inimigo russo e os seus adversários europeus. Quem não recebeu um único refugiado ucraniano e se farta de vender. E nós, como todos os perdedores, vamos pagá-la por tabela e na medida grossa.


AVISO À NAVEGAÇÂO: Não sou detentor da verdade, revelada ou factual, não vendo propaganda como informação comprovada, exprimo apenas as minhas opiniões. Deixem-me ao menos ter essa liberdade. Se continuarem os insultos fecho a caixa dos comentários, poupando o trabalho de apagá-los. Comentar aqui não é direito vosso, é uma graça que vos concedo.


terça-feira, 15 de março de 2022

O aspirante a senhor do mundo já se dá ao luxo de impor à China as posições que ela deve assumir. Se isto é assim agora, imagine-se o que seria no futuro se os EUA se tornassem na única potência imperialista mundial.


A arrogância belicista do imperialismo americano está ficando cada vez mais clara ao estender-se no imediato contra a China, procurando envolvê-la no conflito da Ucrânia. Neste quadro, uma grande provocação à China, a aplicação de sanções económicas ou mesmo o reconhecimento da República da China (Taiwan) como Estado soberano, não está de todo afastada.

São as jogadas audazes, em que os falcões neo conservadores que dominam a geo-estratégia americana são peritos (lembremo-nos da tragédia do 11 de Setembro de 2001 e o seu uso para a justificação da invasão do Afeganistão e, depois, do Iraque), que para o comum das pessoas são inimagináveis e por tão terríveis são tidas por inverosímeis, que fazem com que a realidade não seja facilmente compreendida.


domingo, 13 de março de 2022

A NATO é uma “aliança militar defensiva” dos países que a integram. Não intervirá na Ucrânia... a menos que a Rússia ali use “armas químicas”. A preparação da provocação vai em galopada desenfreada. No mundo dos guerreiros loucos a parada está subindo vertiginosamente.

terça-feira, 8 de março de 2022

E a Polónia ali tão perto e prestimosa...

segunda-feira, 7 de março de 2022

O oportunismo ao rubro de verde vestido (XIII). O PCP perdido no labirinto das suas contradições.


Em trinta anos, o PCP não digeriu a desintegração da URSS nem compreendeu que o marxismo-leninismo constitui o maior logro ideológico e político dos últimos cem anos e que o comunismo implodiu pela sua própria ineficácia. Não pôde, por isso, reconhecer que o comunismo não passou de um regime de capitalismo de Estado e que a URSS se transformou numa potência capitalista e, na medida das suas possibilidades, numa potência imperialista. Compreende-se que seja difícil para os crentes na mitologia marxista-leninista aceitar esta crua realidade.

E ainda não compreendeu que o principal inimigo dos trabalhadores não é o imperialismo americano, mas o capitalismo (privado ou de Estado) existente em cada país. O imperialismo americano, como qualquer outro, é, antes de mais, um inimigo dos povos, e nesta medida também um inimigo dos trabalhadores que os integram. A luta entre países, entre fracções nacionais dos capitalistas, não pode ser confundida com a luta de classes, a luta dos capitalistas contra os trabalhadores. Isto é elementar.

Assim como não compreendeu coisas mais prosaicas, como o papel que tem desempenhado com a sua desastrada política de aliança com a “social-democracia” centrista que executa a política de direita ao serviço do capital, que tem contribuído para o agravamento das condições de vida dos trabalhadores, ao contrário do que tem afirmado, e para o declínio da sua influência social e da sua expressividade eleitoral, que até poderá pôr em risco a sua existência. Não ter reflectido sobre a sua "linha política de direita" é também grave.

A guerra da Rússia contra a Ucrânia é uma guerra de agressão, apesar dos formalismos e dos pretextos ao abrigo dos quais foi desencadeada e das razões que possam assistir ao agressor, que por muito ponderosas apenas lhe poderão atenuar a culpa. E é uma guerra motivada pelas disputas entre potências capitalistas, entre uma potência imperialista decadente e a potência imperialista dominante, de cujos efeitos sofrem os povos. Não há como escapar disto. O subterfúgio de estar contra esta guerra sem a qualificar, além de escusado e estúpido é perigoso.

Os argumentos invocados pela Federação Russa para justificar o que denomina de “Operação Especial” na Ucrânia não têm ponta por onde se lhes pegue. Se as auto-proclamadas Repúblicas Populares da região de Donbass são Estados independentes, como as reconheceu a Federação Russa, mesmo a esta luz de mais do que duvidosa legalidade a intervenção russa apenas seria legítima circunscrevendo-se à defesa daquelas Repúblicas. O que se passa, porém, vai muito para além disso. Não há, portanto, qualquer legitimidade para a guerra de agressão à Ucrânia.

A extensa e profunda provocação urdida pelos EUA para enfraquecer a Federação Russa e depois reduzi-la à condição de potência regional, nem que para tanto tenha de provocar uma guerra de grandes proporções na Europa usando a Ucrânia como instrumento e sacrificando o povo ucraniano, e de caminho atingindo as principais potências da União Europeia, deve ser explicada e denunciada, mesmo arrostando com os ataques dos representantes políticos da indigente burguesia dependente portuguesa, mas isso não altera o carácter da guerra em curso.

Antes que seja tarde, urge que o PCP faça uma profunda reflexão sobre tudo isto.


ADENDA (08.03.2022)

Hoje, nas comemorações do Dia Internacional da Mulher, pela voz do secretário-geral Jerónimo de Sousa, referindo-se à “paz que tem sido posta em causa nestes anos de muitas guerras na Síria, no Iraque, no Afeganistão, na Palestina, na Líbia e em outros países de África e que, com trágicas consequências e sérios perigos, se desenvolve na Ucrânia e que causam compreensiva e legítima consternação e apreensão”, “uma guerra a que urge pôr termo”, o PCP reafirmou que está “sem equívocos ao lado dos povos que desejam paz e condena todo um processo de ingerência e confrontação que ali se instalou, o golpe de Estado de 2014, promovido pelos EUA naquele território, a recente intervenção militar da Rússia e a intensificação da escalada belicista dos EUA, da NATO e da União Europeia”.

É grave que o PCP persista na sua errada posição acerca da “recente intervenção militar da Rússia” sem a qualificar, mas é ainda mais grave que se refira à Ucrânia como “aquele território”. Deste modo, o PCP não só foge a qualificar a guerra existente na Ucrânia como guerra de agressão desencadeada pela Rússia contra aquele país, como mostra não considerar a Ucrânia um país independente e um Estado soberano. Esta é a forma como a Federação Russa também considera a Ucrânia e a guerra que contra ela desencadeou. Uma tal proximidade de posições deita por terra a aparente neutralidade do PCP e a sua condenação da guerra.

Até a China, a respeito de Taiwan, considera a sua posição diferente da que ocorre entre a Rússia e a Ucrânia, visto que sempre considerou a ilha como parte integrante do seu território. A Ucrânia é não só um país independente como um Estado soberano, com assento na ONU. Há portanto qualquer dissonância cognitiva no secretariado do PCP a necessitar de urgente tratamento.


ADENDA II (11.03.2022)

Na concentração «Parar a Guerra, Dar uma Oportunidade à Paz!», ocorrida ontem no Largo Camões, em Lisboa, o PCP, pela voz de Pedro Guerreiro, membro do Secretariado do Comité Central, referiu a posição do partido que “desde o primeiro momento, desde 2014, posicionou-se contra a guerra na Ucrânia”, que não é “uma guerra que sirva os interesses do povo ucraniano, não serve os interesses do povo russo, não serve os interesses dos povos da Europa” e serve “os interesses da administração norte-americana e do seu complexo militar-industrial que procuram lucrar à custa do negócio da guerra, querem lucrar à custa da imposição de sanções cujo os custos vão sobrecarregar os trabalhadores e os povos, vão atacar direitos e as suas condições de vida, promovendo fabulosos lucros para os grupos económicos e financeiros e para os especuladores”. E apelou “à mobilização em defesa da paz e contra a guerra, pelos direitos dos povos, pela cooperação e a segurança na Europa, pelo respeito dos direitos da Carta das Nações Unidas e da Acta Final da Conferência de Helsínquia”, persistindo na ambiguidade acerca da “guerra na Ucrânia” sem a qualificar e sem se referir à potência imperialista que a desencadeou. Surpreendente é apenas a continuação da estupidez!


sexta-feira, 4 de março de 2022

A parada do “mundo livre” está subindo perigosamente


Passada a fase inicial da propaganda de que as tropas russas estariam a provocar “um genocídio” do martirizado povo ucraniano, que perante o exíguo número de mortos civis a realidade foi acabando por desmentir, a fase seguinte foi a de que escolas, creches, hospitais, maternidades e edifícios de habitação estariam sendo atacados deliberadamente. Como a realidade, apesar da intoxicação propagandística sem precedentes, também se foi encarregando de desmentir esta sanha assassina, a histeria propagandística volta-se agora para o ataque que estaria a ser levado a cabo contra centrais eléctricas nucleares.

Pelos vistos, as tropas russas têm uma predilecção por alvos não militares, e precisamente por aqueles em cujo perímetro é suposto não haver tropas inimigas, como mandam as regras da guerra, e porque é assim, lutando contra moinhos de vento, que se ganham as guerras. Já tinham combatido contra a central eléctrica nuclear encerrada de Chernobyl, provocando o aumento dos níveis de radiação, e insistem de seguida na central eléctrica nuclear de Zaporizhzhya, nos arredores da cidade de Enerhodar, no sudeste do país, em cujo perímetro também seria suposto não haver tropa regular ucraniana nem companhias do batalhão AZOV nem milicianos neo-nazis, e onde terão provocado um incêndio. Comprova-se assim que os comandantes das tropas russas só podem estar loucos, aliás, como do Presidente do seu país diz a propaganda do “mundo livre”.

Ao início desta madrugada (há pouco) ouvi (TVI/CNN Portugal) que a Comissão Internacional de Energia Atómica terá solicitado à NATO a interdição do espaço aéreo ucraniano, não vão as tropas russas ensandecerem de todo e pôrem-se a atacar as centrais eléctricas nucleares ucranianas a partir do ar, de onde os disparos de misseis, mais precisos, não falharão os alvos. Esta gente, se não ensandeceu de todo, procura desesperadamente um pretexto para a intervenção da NATO no conflito. Como a primeira provocação (o afundamento de um pesqueiro de país pertencente à NATO) pareceu pouco credível e não produziu os efeitos procurados, volta-se agora para a efabulação de ataques a centrais eléctricas nucleares. A este propósito, li no site da “Rádio Observador” que o Presidente ucraniano acusou “a Rússia de “terrorismo nuclear” e de querer repetir o desastre de Chernobyl”. Certamente não irão faltar outras provocações.

Não recordo agora onde, li que os primeiros de “16 000 voluntários militares estrangeiros” terão já chegado ao país. Sobre este assunto, a Chéquia terá aprovado a amnistia de nacionais seus que combatam na Ucrânia, e “a Legião Nacional Georgiana, uma unidade paramilitar organizada em 2014 para “enfrentar a agressão da Rússia” no Donbass”, umas semanas antes do início da invasão russa começara “um novo processo de recrutamento de soldados estrangeiros”, nomeadamente georgianos, norte-americanos, britânicos, australianos, italianos e alemães. Mesmo com tantos milhares de nacionais ucranianos retidos no seu país, proibidos de saírem acompanhando as suas famílias procurando refúgio nos países vizinhos da UE/NATO, e de outros milhares que terão chegado ao país para lutarem contra o inimigo, a Ucrânia, afinal, necessita de voluntários estrangeiros (que alguém pagará).

Assim como ouvi também (TVI/CNN Portugal) e li (DN) que o Presidente dos EUA, Joe Biden, com envolvimento directo já antigo na política de desestabilização da Ucrânia necessária para a teia, telefonou ao jovem Presidente, com quem terá mantido contactos regulares, pois “têm uma linha directa através de um telefone de satélite encriptado que foi fornecido pelos EUA ao Presidente da Ucrânia”. Parece, afinal, que o Presidente da Ucrânia não estará assim tão só quanto a propaganda do “mundo livre” tem querido fazer crer. Verifica-se, portanto, que a parada propagandística do “mundo livre” está subindo perigosamente, à medida que a realidade vai pondo a descoberto o que verdadeiramente poderá estar por detrás da guerra: a reacção da Rússia à grande provocação que paulatinamente lhe vem sendo dirigida, urdida pelo “mundo livre” usando a Ucrânia como ponta de lança de conveniência, no intuito de enfraquecê-la e de reduzir a sua importância económica e política, provocando, por tabela, a desestabilização económica na UE, à medida dos interesses estratégicos dos EUA.

A intensíssima campanha de propaganda focada no “genocídio” do martirizado povo ucraniano que estaria sendo levado a cabo pelas tropas russas que invadiram a Ucrânia foca-se agora no perigo nuclear. Falhada a primeira tentativa, em Chernobyl, e a segunda, em Zaporizhzhya, na Ucrânia existem ainda mais umas quantas centrais eléctricas nucleares onde uma séria provocação poderá ser montada para confirmar a tese propagandística. Se assim acontecer, o “mundo livre” terá encontrado finalmente as “armas de destruição maciça” deste “inimigo louco”. Os repetidos apelos do jovem Presidente ucraniano para a entrada da NATO na guerra não têm surtido efeito até agora. Mas não é de excluir, enquanto tal não acontece, que países membros das redondezas estejam manobrando para intervenções isoladas. Perante a incapacidade da aviação de combate ucraniana, a utilização da aviação de combate estrangeira no conflito, sob o pretexto da interdição do espaço aéreo ucraniano, reclamada agora, é uma forte possibilidade.

E que jeitão daria a entrada da aviação de combate do “mundo livre” nos céus da Ucrânia, numa altura em que a coluna de carros de combate do “inimigo louco” que se dirigia para o cerco de Kiev se desloca vagarosamente, devido a “grande resistência” por parte da Ucrânia, ou estará mesmo parada esperando por abastecimentos (peças, combustível, munições e “rações”), à mercê de fácil destruição. Já vi filme parecido aquando da primeira guerra do Iraque (1991) e a aviação de combate norte-americana bombardeava e destruía uma extensa coluna de carros de combate e de camiões de transporte iraquianos que abandonara o Kuwait e regressava a Bagdad. Isto enquanto o “inimigo louco” ainda nem cumpriu a ameaça que fez ao “mundo livre” de usar as verdadeiras armas de destruição maciça de que, de facto, dispõe. Esta gente parece ter-se esquecido da ameaça do “inimigo louco”, ou então é ela que estará louca de verdade.

Ou louco estarei eu, que aqui escrevi estas merdas e continuo classificando a invasão da Ucrânia pela Rússia como guerra de agressão, que o é de facto, independentemente do formalismo arranjado para lhe dar cobertura (ao abrigo do qual foi desencadeada) e das eventuais razões que possam atenuar a culpa do agressor, e que desejo o retorno urgente da diplomacia para pôr fim a este grave conflito antes que seja tarde de mais. Porque a perigosa estupidez e irresponsabilidade que por aí vai é muito preocupante.


terça-feira, 1 de março de 2022

Solidariedade com o povo ucraniano, fim à guerra de agressão e preocupação com a realidade. O mundo multipolar saído da II guerra mundial acabou, o caos aproxima-se, mesmo que demore a chegar. Cuidem-se!


O que parecia inacreditável aconteceu, e outros inacreditáveis sucedem-se em catadupa, à velocidade de um tweet. Para os povos dos países europeus não-beligerantes o mais preocupante é o belicismo que tomou conta da União Europeia em nome, pasme-se, da defesa da paz, apesar de não se darem conta. Quando se esperaria que a UE procurasse desempenhar um papel independente e de mediadora para a resolução do conflito, propondo soluções de compromisso que pudessem salvar a face de ambos os beligerantes, acontece precisamente o inverso.

Ontem à noite fiquei surpreendido com as afirmações do Alto Representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, quando se referia à aprovação do envio de equipamentos militares para a Ucrânia, de que "estamos numa guerra", que é como quem diz Portugal e os restantes membros da UE estão em guerra com a Federação Russa. E hoje, ao início da tarde, fiquei estupefacto com o veemente e empolgado discurso belicista da Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que enquanto assumia a tomada de partido contra a Rússia e a favor da Ucrânia falava de paz.

Em vez de se preocupar com a ajuda humanitária ao povo ucraniano e aos muitos milhares de refugiados que estão chegando aos países membros, e de se assumir como mediadora empenhada do conflito, a Comissão Europeia opta pelo apoio ao governo ucraniano e, de forma descarada, toma partido na guerra. Pelos vistos, estalou o verniz que tem coberto a União Europeia como "instituição democrática", defensora do "Estado de direito democrático" e da paz que tem camuflado o papel de instrumento dos interesses da Alemanha que ela tem desempenhado. Mas a irresponsabilidade da rapaziada “social-democrata” que subiu ao poder na Alemanha, comparada com a sensatez da “conservadora” Angela Merkel, é assustadora. Eles já tinham dado uma amostra, mandando borda fora um Almirante desalinhado, e confirmam-no agora.

Bastou a Alemanha decidir-se pela aplicação das sanções mais gravosas à Federação Russa, pela ajuda em equipamentos militares à Ucrânia e pelo aumento substancial da despesa com o seu rearmamento, para que a União Europeia abandonasse o pouco comedimento que até aí manifestara e se decidisse abertamente por enveredar pela escalada belicista, hipocritamente em nome da defesa da paz e da liberdade dos povos e dos Estados. Até o Presidente dos EUA, com ligações de longa data ao que se tem passado na Ucrânia, deverá ter ficado surpreendido, tratando de endurecer a sua própria posição, para vincar quem lidera a geo-estratégia de ataque à Rússia, como já sucedera com a imposição de que o gasoduto Nord Stream 2 não entraria em funcionamento, neste caso, as acções a desencadear no imediato.

Apoiem o povo ucraniano, lutem pela paz e contra a guerra, contra esta e contra outras que continuam existindo, apelem ao retorno da diplomacia para pôr cobro a esta guerra de agressão, mas não deixem de se interrogarem porquê o país mais pobre da Europa, com uma apreciável diáspora trabalhadora emigrante, alguma no nosso país, com uma corrupção endémica, em vez de se abrir ao investimento produtivo estrangeiro optou por se abrir ao investimento militar estrangeiro, por enveredar pela submissão política e militar a potências estrangeiras (da NATO) e se transformar em sua ponta de lança na ameaça à Rússia, usando o seu povo como carne para canhão. Serão os jovens de um tal Governo e o jovem Presidente heróis, como os pintam a propaganda, ou verdadeiros vilões? Olha que rica, sensata e heróica juventude a que está no poder na Ucrânia!

Não se deixem capturar pela propaganda repugnante de que a Rússia perpetra um genocídio do povo ucraniano, o que é desmentido de forma clara pelos factos e seria uma contradição com os seus próprios argumentos, quando a potência invasora tem procurado sobretudo destruir alvos militares e políticos, fez repetidos apelos a negociações, não tem colocado obstáculos ao êxodo em segurança das populações, identificando as vias e os dias (só faltou dizer a hora), e é o governo ucraniano, perante a destruição de grande parte das suas infra-estruturas militares e as dificuldades em resistir à invasão, que distribui armas a civis (em vez de os incorporar e enquadrar no exército), lhes recomenda o fabrico de coquetéis Molotov (lembranças dos tempos do golpe de Estado), transformando-os em combatentes e em alvos legítimos a abater, e acantona forças e armamento pesado nas cidades, junto a hospitais, escolas, fábricas e edifícios residenciais, colocando a sua população em risco acrescido (como fizeram outros países agredidos pelos EUA, mas que constitui violação das regras da guerra) e enviando-a deliberadamente para a morte certa.

E interroguem-se também sobre a independência deste país e sobre o poder que dizem residir no povo, vós, sobretudo acerca de uma questão de tamanha importância como é a entrada em guerra. Reflictam sobre o silêncio do P-M em exercício e do afectuoso Presidente da República, habitualmente tão pressurosos e eloquentes a fazerem propaganda ou a falarem de banalidades, ao nada dizerem sobre esta insólita situação, e porquê o Ministro dos Negócios Estrangeiros, o conhecido peneireiro e habitual trauliteiro de serviço, que tem escapado ao sumiço, nem se deu ao incómodo de chamar para consultas e informação os embaixadores dos países beligerantes, a Federação Russa e a Ucrânia, certamente por andar atarefado com as reuniões em que foi aprovada a mudança histórica da União Europeia.


ADENDA (23 horas)

A União Europeia, que há pouco tempo admoestava dois países membros (a Polónia e a Hungria) por violações do "Estado de direito democrático", aceitou o pedido de adesão da Ucrânia, um país que tem dado sobejas provas de não respeitar os direitos das suas minorias étnicas e culturais, de não respeitar os princípios do "Estado de direito democrático" ao depor através de um golpe de Estado um Presidente eleito, ao permitir a infiltração de fascistas e neo-nazis nas forças armadas e dar rédea solta a milícias armadas do mesmo cariz, que consagrou como herói nacional um antigo líder nacionalista fascista e nazi, e cujo actual Presidente, apesar de regularmente eleito por uma parte da população, não deu cumprimento aos acordos de Minsk e renunciou à diplomacia para a resolução dos conflitos, e, além disso, que está em guerra, ainda que como vítima de uma guerra de agressão.

Surpreendentemente, foi convocada uma reunião especial do Parlamento Europeu na qual participou (à distância, por vídeochamada, muito bem coreografado, como vem sendo hábito, faltando-lhe talvez algumas olheiras e a barba mais crescida, para compor melhor a figura do resistente) o Presidente da Ucrânia (convidado através de qualquer processo célere previamente preparado), que foi longa e emocionadamente aplaudido, como convém para dar cobertura ao apoio político e à ajuda em equipamentos militares que a UE passou a conceder à Ucrânia. Veremos o que irá sair desta interessante situação e que excepções serão abertas para justificar a apreciação do pedido de adesão da Ucrânia, ou para aprová-lo.

Há pouco, acabei de ouvir Sérgio Sousa Pinto, um "social-democrata" e encartado comentador de "esquerda", criticar desabridamente o PCP, porque não condenou a Rússia nem alinhou com os interesses do imperialismo americano, e referir-se à necessidade da defesa do "mundo livre", uma expressão típica da Guerra-Fria, quando o capitalismo ocidental era assim designado e o comunismo era diabolizado e os países comunistas eram designados por "cortina de ferro". Este "jovem" de meia-idade parece continuar a encantar-se com histórias da carochinha e permaneceu parado no tempo, exprimindo agora o que nunca deixou de pensar. A continuar por este caminho, secundando a direita caseira e internacional, corre o risco de um dia destes ver nas paredes "socialismo=russos". A história dos últimos cem anos está repleta de exemplos.

Aliás, estava muito bem acompanhado por Helena Matos, outra encartada comentadora e perspicaz analista que perora diariamente na Rádio Observador, essa central de propaganda de direita disfarçada de "Rádio" (no que é bem imitada em "televisão" pela TVI/CNN-Portugal, que lhe aproveita vários dos seus quadros jornalistas como comentadores), fazendo parelha com outro abalizado comentador, o inefável José Manuel Fernandes (um dos trastes que se empenhou na defesa da invasão do Iraque levada a cabo pelos EUA sob a presidência de Bush filho, então secundado entre outros pelos também inefáveis João Carlos Espada, Pacheco Pereira e António Barreto).